Macau está cheio de alma portuguesa! Quando se deambula, esse véu desvenda-se no nome das ruas, nas indicações de trânsito, nas paragens de autocarro, nas tabuletas de cores garridas. Nas churrascadas ao fim do dia. No pavimento ladrilhado. Nos recantos de arquitetura.
Corpo do artigo
Porém, a alma portuguesa perde-se nessas ruas, porque só os portugueses residentes em Macau falam português. E ninguém os compreende.
Curioso ter-se perdido a língua e, de repente, sentimo-la ressuscitar pelo desejo de a aprender. Mas o caminho é longo! Muito tem sido feito pelas instituições portuguesas em Macau que apostam intensamente na política da língua. É o filão a escavar nas universidades chinesas.
Por isso, Macau é a ponte que pode ligar a China à língua portuguesa, através de uma aposta na formação de professores e na criação de mecanismos capazes de divulgar esse ensino.
Por outro lado, não nos devemos esquecer da vertente cultural. Os chineses são muito diferentes de nós e é difícil para eles ouvir as pulsações de um povo que ainda acredita no regresso de D. Sebastião! Que usa o fado para derramar lamentos. Que sorri sem pudor a desconhecidos. Que beija na cara os conhecidos. Que existe com a força do mar que conquistara outrora.
O povo chinês quer aprender português, mas há que os fazer acreditar no poder de uma língua capaz de saber dizer "saudade". Talvez, aí, a alma conquiste o corpo e haja chineses capazes de nos dizer bom-dia ao pequeno-almoço!
* Professora de Português e formadora do acordo ortográfico