Na poesia de Cesário Verde encontram-se diferentes tipos de mulher.
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Assim, temos a mulher da cidade, produto de convenções citadinas. Este tipo aparece, por exemplo, no poema Deslumbramentos - Milady. Trata-se de uma mulher fatal (grande dama fatal), fria (com seus gestos de neve e de metal). Além disso, é distante (ar pensativo e senhoril), sedutora, perigosa e dominadora (é perigoso contemplá-la), (como me estonteia e me fascina). No poema Cristalizações, surge, igualmente, este tipo de mulher, personalizada na actrizita a quem os calceteiros encaram sanguínea, brutamente, pelo desejo que ela lhes desperta.
A mulher da cidade personifica a morte, pois é uma mulher-demónio (o seu olhar possui, num jogo ardente, /Um arcanjo e um demónio); (O demonico arrisca-se (...) Com seus pezinhos rápidos, de cabra!).
No entanto, a cidade também abarca a mulher vítima social. Exemplos disso são os poemas Num Bairro Moderno, Ave-Marias, Contrariedades.
De facto, tanto a engomadeira como as varinas e a vendedora de fruta encarnam a injustiça social da cidade (embalam nas canastras os filhos que depois naufragam nas tormentas); (pousara, ajoelhando a sua giga).
Por outro lado, a engomadeira personifica a doença que se desenvolve na cidade: Pobre esqueleto branco (...) Mortifica. Lidando sempre.
Por contraste, temos a mulher do campo, que aparece no poema A Débil. Trata-se de uma mulher da cidade sem lhe pertencer, daí que surja natural, autêntica, associada ao calor e ao sol, transportando a pureza campestre.
A Débil é uma mulher simples e discreta (esse vestido simples, sem enfeites), frágil (bela, frágil, assustada) e dócil (a ti, que és ténue, dócil, recolhida).
Em conclusão, na poesia de Cesário Verde, a mulher do campo é uma mulher - anjo, símbolo da redenção (sinto / Que me tornas prestante, bom, saudável) e a da cidade, símbolo da humilhação e da perdição.
* Professora de Português e formadora para a área da língua portuguesa
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