Tal como disse Jacinto do Prado Coelho, Cesário teve olhos para ver e sensibilidade para sentir.
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Efetivamente, o visualismo patente na sua poesia faz dele um artista plástico, que representa as pessoas, as coisas humildes e quotidianas.
Assim, deambula pela cidade e pelo campo, invocando a realidade de maneiras diferentes e de uma forma subjetiva.
Desta forma, Cesário fixa em processo, quadros e tipos citadinos. Essa cinematização da vida lisboeta surge, por exemplo, nos poemas Num Bairro Moderno e Contrariedades, onde se verifica, simultaneamente, uma simpatia e solidariedade para com a classe trabalhadora e as vítimas das injustiças sociais.
No entanto, a profunda vitalidade telúrica do campo está igualmente presente nos seus poemas, numa ânsia de evasão, e por antinomia à cidade, como se pode constatar em Cristalizações.
Pode-se, assim, concluir que escrever bem em Cesário é sinónimo de ver bem, e, como se lê em Álvaro de Campos, "ver claro, ver simples, ver puro, ver o mundo nas suas cousas".
* Professora de Português e formadora para a área da língua portuguesa
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