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É um facto: os relatórios diplomáticos norte-americanos que o semanário Expresso começou a publicar neste fim-de-semana não trazem revelações surpreendentes. Não ficamos a conhecer nenhum grande segredo, daqueles capazes de fazer cair governos, ou, vá lá, algum ministro. E mesmo que ficássemos, manda a tradição lusa que os ministros são inimputáveis.
Mas se não houve revelações surpreendentes, deu para perceber que os relatórios são mesmo assim relevantes para perceber melhor como se gasta, neste país falido, o escasso dinheiro dos contribuintes. Em Março de 2009, o então embaixador dos EUA em Lisboa, Thomas Stephenson, embora revelando uma boa dose de ressentimento, não deixava de ser certeiro na avaliação que fazia da forma como no Ministério da Defesa se gastava dinheiro com "brinquedos caros".
A saber, coisas para a nossa tropa se entreter nos quartéis, nem tanto para lhe dar uso efectivo, até porque, por norma, acabou tudo estacionado ao fim de poucos meses, por falta de manutenção, falta de peças, falta de dinheiro, ou tudo isto ao mesmo tempo.
Da edificante lista a que se dedica o ex-amigo americano não podiam ser excluídos os dois submarinos comprados à Alemanha, que aliás estamos agora a estrear. Mil milhões de euros que, percebeu logo o embaixador, não serviriam para grande coisa a não ser para tornar mais lustrosos os galões de um qualquer almirante. É o próprio a dizer que, com a enorme extensão de costa que temos, teríamos feito mais útil negócio a comprar navios-patrulha. Sempre serviriam para dar caça ao narcotráfico, imigração e pesca ilegais.
Que uso se pudesse dar aos caças F-16, comprados precisamente aos americanos, também não entrevia o embaixador Stephenson. Aliás, dos 39 que orgulhosamente os nossos governos foram comprando, só 12 estão ainda em condições de voar. Os outros foram-se abaixo sem ao menos terem derrubado uma aeronave inimiga.
O mesmo com os tanques Leopard, outro negócio de milhões, agora com a Holanda. Eram 36, hoje estão quase todos parados porque não há dinheiro para peças de substituição. Tiros com o canhão que trazem, só se foi nos treinos. E finalmente os helicópteros EH-101, que poucas semanas depois de chegarem já estavam a parar por falta de peças, uma vez que um dos tais ministro inimputáveis não se preocupou em mandar fazer um contrato de manutenção.
Pergunto: e não se pode exterminá-los? Não os políticos, evidentemente. No que estava a pensar é se não nos ficaria mais barato acabar com as nossas inúteis Forças Armadas e vender os submarinos, os caças e os tanques. É certo que já não os podemos despachar para o carismático líder Kadafi, mas ainda temos o amigo Chávez.
