1 O que me leva, enquanto professor em duas universidades, escrevendo regularmente em três publicações de prestígio, comentando o estado do país na televisão e tendo-me tentado afirmar por uma visão politicamente livre e desinteressada, a aceitar um convite para ser candidato a deputado nas próximas legislativas? Que razões motivarão o risco de abandonar uma posição confortável e a amena arrumação das rotinas existenciais estabilizadas em prol de uma vida de alvoroço em Lisboa, numa cidade que não é a minha, distante da família e dos amigos de sempre e irremediavelmente colocado numa perigosa fronteira com a contagiante lógica da corte cujos desmandos tanto tenho combatido em intervenções públicas?
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E porquê ser candidato independente nas listas do PSD, já que, tantas vezes, critiquei com vigor políticas e figuras desse partido?
2 . Não pode ser pelo fascínio da função de deputado, pois, infelizmente, há muito que essa actividade perde prestígio em quase todas as suas dimensões. Nem pela remuneração, conquanto, para mim, não resultará daí qualquer vantagem.
Candidato-me porque Portugal nunca esteve tão doente desde que me fiz homem. Porque não me recordo de termos sido tão mal governados como agora. Porque empobrecemos nas finanças e na economia mas, sobretudo, no orgulho que tínhamos em sermos portugueses e na mais elementar convicção quanto às nossas qualidades colectivas - desacreditamos em nós mesmos, uns dos outros e todos, em uníssono, do país.
Nos últimos seis anos sofremos o assédio do pior Governo desde o fim das Guerras Liberais (1834) e, consequentemente, embora muitos continuem distraídos, Portugal vive um período tremendamente difícil. Este Governo desperdiçou-se em propaganda política primária e distraiu-se de governar. A deplorável insuficiência governativa de Sócrates fez de Portugal o problema da Europa, como elucida o episódio em que um turista finlandês, num restaurante do Funchal, se dirigiu a João Jardim e a Passos Coelho dizendo: "Espero que a vossa refeição não seja paga pelos impostos dos finlandeses" - tudo isto é demasiado revelador dos largos tempos de notório vexame internacional que nos esperam e de que, nunca o esqueçamos, o actual Governo é o responsável directo.
Um Governo tão mau merece perder nas urnas e perceber que, afinal, as pessoas pensam pela sua cabeça e não apreciam serem enganadas. E só o PSD e Passos Coelho demonstram aptidão para nos livrarem da desgraça que Sócrates representa.
3. Encontrei a máxima da minha vida há alguns anos na porta do Museu do Holocausto, em Washington: "Não serás um criminoso; não serás uma vítima; acima de tudo, nunca serás um espectador passivo".
Os tempos em que estamos não são apenas de crise - são de aflição. Tenho filhos pequenos e quero que eles cresçam num país de que nunca sintam vergonha. Sou professor e canso-me da dor crescente de ver jovens promissores despedaçarem as suas legítimas esperanças de uma vida condigna na aridez de um país encurralado no muro maciço da irremediável incompetência de quem nos tem desgovernado.
Quando Pedro Passos Coelho me convidou percebi que não podia conservar-me no conforto do observador apático. Se julgo conhecer alguns dos muitos desacertos de que o País enferma, então tenho o dever de os ajudar a emendar e não apenas de os denunciar.
4. Aceitei ser cabeça-de-lista do PSD em Viana do Castelo. Não escolhi esta Lei Eleitoral e nem sequer concordo com a sua lógica centralista - aliás, comprometo-me desde já a envidar todos os esforços para a reformular de acordo com os melhores exemplos europeus. Mas sou um regionalista convicto. Como tal, encaro o Norte como uma unidade administrativa e política a quem a diversidade cultural tanto enriquece. Para mim, Braga, Porto, Vila Real, Bragança e Viana do Castelo são partes de um Norte igualmente deprimido que este Governo, obsessivamente centralista, maltratou.
Não ficarei "lisboetizado" nem politicamente domesticado - fiel à tradição localista de que me revisto, serei igual a mim próprio na defesa dos interesses dos que me elegerem.