Bem sei que a coisinha má que passou pela cabeça do primeiro-ministro grego, ao pedir um referendo que politicamente o defenda dos custos de uma nova, inevitável e decisiva (para a Grécia e para a Zona Euro) intervenção externa, nos traz quase a todos em sobressalto. Mas, como a nossa alma lusitana anda já excessivamente estremunhada, talvez valha a pena fazer uma pausa e olhar cá para dentro, para ver como param as modas.
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Há, como se sabe, motivos vários para reflexão. E outros tantos para estupefacção. Por exemplo: quando o secretário de Estado da Juventude e Desporto acha que os jovens portugueses devem sair da sua "zona de conforto" (bela expressão!) e emigrar, a única coisa que nos resta é ler outra vez para ter a certeza de que é verdade e perguntar de que planeta é este ser originário. Respostas: Alexandre Mestre, o secretário de Estado, disse exactamente o que queria dizer e habita o planeta Terra.
Mais: o jovem governante não é único jovem político a pensar assim. O porta-voz do PS disse coisa muito semelhante, há umas semanas, numa conversa com o JN. Frontal - e ingénuo -, o jovem João Ribeiro jurou que, não tivesse ele hoje a alta incumbência de transmitir ao incauto povo o que o PS pensa sobre o correr do mundo, já há muito tinha emigrado.
Donde se conclui, com inquestionável legitimidade e sem ponta de ironia, que o jovem Alexandre Mestre e o jovem João Ribeiro deixaram de acreditar no país em que vivem. Suponho que, lamentavelmente, estarão acompanhados por uns milhares de portugueses: estarão acompanhados pelos amigos e familiares que, vendo definhar a vida dos que lhes são próximos, aconselham a saída do país.
Sucede que vai uma longa distância entre a responsabilidade de um pai e de um amigo e a responsabilidade de um secretário de Estado e de um porta-voz do maior partido da Oposição. Quando Alexandre e João convidam os jovens a emigrar estão a passar um declaração de incompetência a si próprios e aos seus superiores hierárquicos; estão a dizer que, por eles, o fim da linha chegou; estão a dizer que Portugal não tem remédio; estão a decretar a sua incapacidade para, sequer, irem à procura do remédio.
Podemos achar que as palavras pouco cuidadosas de Alexandre e João valem o que valem. É o modo fácil de ler o problema que está aqui escondido. E que é este: há uma nova geração de políticos absolutamente impreparada para lutar contra o que está e contra o que aí vem (ai como Cavaco os teme!). É precisamente esta geração, nada e criada nas juventudes partidárias, que, daqui a nada, formará a nossa nova classe política, para a qual sobrarão os pesados resquícios da aventura em que estamos metidos. Assusta pensar que, um dia, podemos ser governados pelo Alexandre e pelo Paulo.
A solução? Emigrar.