Já não me acontece há tempos, mas dantes, durante a noite, era visitado pelo terrível pesadelo de ter sido descoberto que ainda me faltava uma cadeira para acabar o curso. Conversas com amigos e conhecidos permitiram-me concluir que este pesadelo não era originalidade minha - é bastante popular e recorrente entre ex-universitários.
O alívio que senti quando me sentei na esplanada do Botânica, no Campo Alegre, após ter feito o último exame (Teoria da História), bem como o guião do pesadelo da cadeira em falta dão a medida exata da importância traumática que o episódio dos exames tem na vida dos estudantes - que no resto do ano letivo até é razoavelmente airada.
Mais tarde, quase todos temos saudades dos tempos de estudante e desdramatizamos o período de aperto dos exames, pois, na vida profissional, estamos quase sempre a ser avaliados, ou seja há exame todos os dias.
Mas enquanto somos estudantes, a época de exames é de nervosismo e ansiedade, pelo que me incomoda que Mário Nogueira e a FENPROF estejam a aproveitar-se desta circunstância e usem os 74 651 alunos do 12.o ano que amanhã têm provas de Português e Latim como reféns da luta que a CGTP tem em curso para manter o seu Alentejo profissional, que é a Função Pública.
Não simpatizo com as reivindicações dos professores. Custa-me muito escrever isto, pois devo o melhor que sou a uma boa dúzia de professores fantásticos que, desde a primária do Campo 24 de Agosto, até à Faculdade de Letras, tiveram paciência para me aturar, e abrir os olhos para o Mundo e as portas do conhecimento.
O nó do problema não é o legítimo direito que os professores têm de defender o seu conforto, emprego - e o privilégio de serem uma exceção às regras em vigor para os trabalhadores do privado, que vão ser estendidas à generalidade dos funcionários públicos.
Os defensores da greve aos exames alegam que uma greve para ser eficaz tem de provocar transtorno, mas esquecem-se de concluir que os transtornados são os 74 651 alunos do 12.o ano que têm exame amanhã, mais os 200 mil do 6.oº e 9.oº anos com provas marcadas para dia 27 - e não Crato (o gestor do maior empregador do país, o Ministério de Educação, com 220 mil pessoas sob contrato), Gaspar, Passos e a troika, que recomenda a poupança de 300 milhões de euros/ano com a saída de 14 mil professores.
Uma greve é como um medicamento. Tanto pode curar como ser letal. Um remédio hipotensor é bom para um hipertenso, mas terá consequências funestas para uma pessoa que sofre de tensões baixas.
Não é preciso ser catedrático para perceber à primeira que depois da GM ter anunciado que por excesso de capacidade produtiva ia fechar unidades na Europa, era completamente suicida a greve dos trabalhadores da Opel da Azambuja contra um acordo de empresa que mantinha a fábrica competitiva dentro do grupo. O resultado estava à vista. A fábrica fechou.
Se fosse eu a dar a nota, chumbava os professores que fizerem greve aos exames, amanhã e dia 27, usando 275 mil alunos do Secundário como escudos humanos.
