Os amigos que tenho de férias no Algarve dizem-me que este ano tem sido excecional. Pelos vistos há muitos anos que o Algarve, em agosto, não estava tão bom como está este ano. A água do mar tépida, o vento raro, a chuva afastada e o frio completamente ausente têm deliciado os veraneantes que optaram por esta região para passar as suas férias e têm deixado a morrer de inveja os que não quiseram, ou não puderam, fazer as mesmas opções.
Se juntarmos a isto o flagelo dos incêndios, gostava de saber onde andam aqueles cientistas que nos venderam a teoria do tal verão mais frio do século!
Já sei que quando regressarem vou ouvi-los dizer mais umas vezes que não percebem como há gente que vai para o Brasil, para Cuba, para Punta Cana ou para as Caraíbas em geral, quando aqui no nosso cantinho existem praias sem fim, muito melhores e mais baratas.
Para quem não sabe, os "algarveiros", termo que inventei para quem não sai do Algarve nas férias e tem raiva a quem sai, não só acham que em Portugal não se pode fazer praia em mais lado nenhum, como no resto do Mundo deve ser quase impossível encontrar local semelhante.
Claro que isto dito assim até parece inatacável e para quem como eu passa o ano a cirandar por esse Mundo fora por razões profissionais, é mesmo ficar a gozar as delícias do nosso país que apetece, pelo que a tentação para assinar por baixo uma declaração destas é o lado para que durmo melhor.
Esquecendo isso e tentando ser verdadeiramente imparcial (lá está, uma coisa que a Benfica TV vai ter muita dificuldade em conseguir quando as imagens recolhidas forem atentatórias do interesse do clube que a fundou e sustenta ...) há que reconhecer que mesmo num ano de safra meteorológica anormalmente boa, o Algarve é uma excelente oferta, mas não é necessariamente a melhor do Mundo. Nem a única em Portugal continental e ilhas adjacentes.
Desde logo porque para muita gente gozar férias significa mudar de ares, ouvir outras línguas, conhecer outros costumes e paragens, desfrutar de experiências visuais e sensoriais bem diferentes. Para já não falar daqueles para quem a praia já não é a sua "praia" em termos de férias.
Como no melhor pano cai a nódoa, este ano as praias da zona de Armação de Pera foram invadidas por exércitos de mosquitos que correram com os banhistas das praias e das esplanadas e quase desertificaram os parques de campismo das redondezas, causando prejuízos de muitos milhares de euros. Sem ainda contabilizar os turistas que nunca mais cá voltarão depois desta picante experiência!
Durante alguns dias, o panorama foi catastrófico e nem o ataque com armas químicas nem o uso de meios aéreos conseguiu resolver a crise a contento.
Enquanto os algarvios esperam que o presidente da República faça uma declaração pública sobre o tema e Passos Coelho, no mínimo, prometa um reforço dos meios aéreos e outros recursos disponíveis para um combate futuro a esta praga, gostava só de lembrar a todos que as férias dos portugueses em Portugal não têm de ser todas na costa do mosquito.
Mesmo para os que não abdicam da costa, o Norte litoral, da Costa Nova até à costa "fina" de Moledo, Afife e afins, pode e merece estar na primeira linha dos destinos dos portugueses, como já está cada vez mais na cabeça e no coração de muitos estrangeiros. Daí é possível dar um pulinho às paisagens apaixonantes de Viana e Ponte de Lima, ao charme discreto e histórico de Guimarães, ao recolhimento refrescante do Gerês e se o fôlego não faltar passar para lá do Marão até aterrar no Douro, que continua bem guardado, mas menos secreto.
Tal como Portugal não é Lisboa e o resto paisagem, também nas férias de verão não podemos achar que o "must" é o Algarve e o resto são trocos. Na linha de que um pequeno acidente de mota em Lisboa é mais importante do que um choque em cadeia na A28, fico doido quando vejo reportagens de portugueses em férias que só mostram as praias do Algarve.
Fosse a Benfica TV no Algarve e corríamos o risco de ser assim todo o ano. E os mosquitos... nem vê-los.
