A minha intenção hoje é falar-vos não de um, mas de três casais sui generis. Dois deles, ainda que à luz da lei atual o pudessem ser, nunca o foram. O terceiro parece que ainda é um casal perante a lei, mas está em desagregação perante as pessoas. José Sócrates e Passos Coelho. Passos Coelho e António José Seguro. Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães.
Apesar das aparências de então, ficamos a saber há poucos dias que José Sócrates terá tentado formar uma dupla com Passos Coelho, então líder do maior partido da Oposição.
Mesmo odiando-se cordialmente, o objetivo confesso de Sócrates enquanto primeiro-ministro quando tentou juntar-se ao líder do PSD era uma questão de imagem. Se Passos Coelho tivesse aceite o seu putativo convite para vice-primeiro-ministro, seria dada à Europa e aos credores em geral uma forte imagem de união, capaz de robustecer a confiança dos credores no nosso país e na capacidade dos nossos políticos para gerarem os consensos necessários.
Estaríamos perante um "casal" falso, que apenas teria casado por conveniência, em que os seus membros estariam condenados a andar a dizer mal do parceiro pelas esquinas do país e do Governo, que duraria provavelmente enquanto durasse a crise, para logo de seguida se desfazer com enorme estrondo. Passos Coelho tem desmentido esse ensaio, negando até a existência do convite, pelo que o divórcio neste caso é como a estória da pescada, que antes de o ser... já o era.
A consequência deste não casamento foi o chumbo do PEC IV, seguido do resgate e das eleições que proporcionaram a troca do "noivo" casamenteiro pela "noiva", que tinha fugido do altar a sete pés.
Como a História se repete (e convenhamos que na política portuguesa se repete incessantemente) ainda estamos longe do fim da legislatura e já temos visto Passos Coelho, agora no papel de noivo, a tentar seduzir António José Seguro para um "pas de deux", que bem poderia acabar em casamento. Mais uma vez, não por causa de alguma paixão fulminante de Passos por Seguro (até porque o nosso primeiro- ministro não parece nada dado a essas modernices e já confirmou solenemente no Parlamento que só namora com a sua mulher, Laura de seu nome), mas outra vez por uma questão de imagem externa. Para inglês ver, ou mais apropriadamente nos tempos que correm, para alemã ver.
Como seria de esperar, se Passos quis fazer de Sócrates, Seguro logo se apressou a fazer de Passos e lá estamos nós de novo a ver se o regaço dos credores nos traz flores... ou mais um resgate.
O terceiro casal inverte a lógica, mas está em morte anunciada porque vive do mesmo mal. O mal da imagem. Ainda que pareça mais uma edição do célebre preso por ter cão e preso por não ter, a moral destas estórias é que não pode ser a imagem o reflexo dos nossos valores.
Com o triste espetáculo a que temos assistido, alguém acredita que era tudo um mar de rosas até ao dia em que foram conhecidas as acusações de violência doméstica ou alcoolismo? É possível, pois, supor que foi em nome desse valor dos tempos modernos, a toda-poderosa imagem, que este casamento se arrastou, pelo menos nos últimos tempos, sendo porventura oportuno lembrar agora as polémicas questões de imagem que a sua celebração já ocasionou, há doze anos.
Deve ser raro voltar a encontrar tão cedo uma situação como esta, em que é o comportamento dos políticos que pode constituir uma lição de vida para um casal português. Um caso bárbaro com um casal que nos tem enchido os olhos e os ouvidos das maiores barbaridades.
