Que a "política é uma questão muito séria para ser deixada para políticos", como notou Charles de Gaulle, já todos tínhamos reparado. Os dias severos que nos castigam sem folga apenas vieram acentuar essa incontornável verdade. Que a economia é, do mesmo modo, coisa demasiado séria para ser entregue às mentes de alguns economistas também já todos desconfiávamos.
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Chega agora prova irrefutável desse facto. A economista Teodora Cardoso propôs nas jornadas parlamentares do PSD a criação de uma taxa aplicável a todos os levantamentos feitos por titulares de contas bancárias. Parece que esta genialidade está a ser discutida em Inglaterra - e a também presidente do Conselho de Finanças Públicas não vê por que motivo não hão de os portugueses puxar pela cabeça para encontrar modo de pôr a coisa em prática.
Resumidamente, Teodora Cardoso acha piada à ideia de o Estado nos obrigar a depositar nos bancos os nossos salários, as nossas pensões ou outros rendimentos. Para começo, não está mal. Depois, sempre que levantássemos dinheiro dessa conta, apanharíamos com um novo imposto. Que seria progressivo sobre o valor da despesa. Isto é: quanto maior fosse o levantamento, maior seria a pancada.
Exemplo comezinho: preciso de 500 euros para encher a despensa e garantir que ninguém passa fome lá em casa. Tenho duas possibilidades: ou levanto aos poucos e vou levando pequenas pancadas, ou levanto de uma só vez e levo uma valente cacetada. Seja qual for a hipótese escolhida, uma coisa é certa: o Estado vai-me sempre ao bolso.
Teodora Cardoso vê nesta manigância duas vantagens, pelo menos: incentiva-se a poupança (o dinheiro à disposição dos portugueses é, como se sabe, imenso: dá para gastar e poupar) e incentiva-se o investimento (pressuponho tratar-se aqui do chamado "bom investimento", seja isso o que for).
Não sou capaz de discutir tecnicamente a medida. Posso até acreditar que dela brotem muitas virtudes. Sobram dois problemas, ambos graves.
A consumar-se, esta medida violaria flagrantemente a minha liberdade. O Estado não tem o direito de me obrigar a pôr o meu dinheiro onde acha que é mais conveniente. Quando muito, o Estado tem o direito de saber se o meu dinheiro está num sítio recomendável. A consumar-se, esta medida transformar-se-ia num esbulho, numa encapotada forma de nos tirarem mais alguma coisinha do pouquinho que sobra, numa vergonha indizível aplicada a incautos contribuintes transformados em agentes ativos de novas experiências sociais.
Graças a Deus, este imposto "não existe em lado nenhum", disse a autora da proposta sem corar. Não chega para alívio: os tipos da troika adoram novas experiências. E o Governo tem sido um belíssimo parceiro nessa matéria. É ver os vergonhosos números da pobreza conhecidos esta semana...