Calma, que ainda não decidi o meu voto! Mas já decidi que vou votar, como sempre que as eleições me apanharam no país. O que só não aconteceu uma vez e já sei que não acontecerá nas próximas eleições para o Parlamento Europeu.
Parece que é mesmo verdade que temos eleições no próximo mês. Como diz uma velhinha que me atura as maleitas quando chove, é daquelas eleições em que a gente não conhece ninguém e não servem para nada!
Se atentarmos nos resultados das últimas eleições para o Parlamento Europeu, temos de aceitar que a tia Emília pode ser velhinha, mas não está sozinha. E muito boa gente acha que não é tolinha. Mais de 60% dos eleitores preferiram o campo, a praia ou qualquer outra modalidade de "dolce far niente", à maçada de demandarem a sua secção de voto para cumprir aquele direito que nunca mais se entende como dever.
Começando pela ideia de que não conhecemos ninguém, não estamos a começar pelo elo mais fraco. Mas também não estamos a salientar nenhum ponto forte destas eleições. Os partidos com histórico na eleição de deputados europeus têm usado estas listas e estas campanhas para acertar contabilidades internas. Os escolhidos passam muitas vezes por pessoas que os líderes gostam de ver por fora, por candidatos autárquicos derrotados a quem é preciso pagar o favor da candidatura perdedora, ou por gente que o bom senso político ou as últimas manchetes dos jornais aconselham que prossigam a carreira mais longe dos portugueses... do que já estão alguns dos que ainda têm assento na Assembleia da República.
O ideal seria que os eleitores portugueses se pudessem rever nos seus representantes num órgão político desta natureza, mas já não seria mau que soubessem quem são, mesmo não sabendo o que fazem.
Pegando ao acaso na lista do PS, só é possível uma revolução como a que António José Seguro fez, porque ele sabe que nós sabemos que ele sabe, que a ligação entre o eleitorado e os deputados europeus é tão fraca como a ligação dele à ala socrática do partido. Se os deputados europeus eleitos nas últimas eleições pelo Partido Socialista tivessem defendido os interesses dos portugueses com algum sucesso (ou no mínimo, com alguma notoriedade) não haveria conveniência partidária interna que fosse capaz de os remover da lista.
Se esquecermos Elisa Ferreira, de quem se vai conhecendo trabalho ao longo dos anos e talvez Carlos Zorrinho, que atributos especiais ou provas de vida útil dão de garantia os restantes candidatos do PS na defesa dos interesses de Portugal na Europa? Mas há que lembrar que os socialistas não estão sozinhos. Não vale a pena referir PCP e Bloco de Esquerda, que nem uma posição antieuropeísta ajudou a dar nas vistas. Também PSD e CDS ergueram à condição de timoneiro um ex-opositor de Passos Coelho, cuja única novidade apresentada foi um novo corte de barba e que se distinguiu no último mandato mais pelo que intrigou cá dentro, do que pelo que fez lá fora. Igualmente esta lista onde eu votaria em condições normais, excetuando a promessa regionalista de Fernando Ruas e a habilidade política de Nuno Melo, pouco ou nenhum sinal de esperança fornece a quem não se quis dar ao trabalho de votar da última vez.
É por estas e por outras que eu temo que a indiferença volte a ser campeã no mês de maio. É aqui que entra o meu título. Gostava de explicar a quem não sabe que a abstenção só não é o pior voto de todos... porque nem sequer é voto. Quando nos abstemos não estamos a votar contra nada, nem contra ninguém! Na melhor das hipóteses, estamos a votar contra nós próprios, porque estamos a deixar nas mãos de quem não queremos a condução dos nossos destinos. Quando queremos dizer à sociedade que não estamos contentes com a oferta política (ou de políticos) disponível, é indo votar em branco que o dizemos melhor. De uma forma audível. Se não formos votar é como se fôssemos mudos, em vez de usarmos a nossa voz para berrar o que não queremos.
