Mireille é uma adolescente dos Camarões de idade incerta que atravessou a salto a fronteira que separa Marrocos da cidade norte-africana, mas espanhola, de Melilla. Como milhares de africanos que se acantonam nas fronteiras da fortaleza Europa, Mireille foge da miséria, da fome, da violência.
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As notícias não nos explicam se pesou mais a ameaça do presente ou a esperança no futuro, apenas que conseguiu passar uma das fronteiras mais vigiadas e violentas do Mundo, depois de várias tentativas falhadas e quando se encontrava no limite da capacidade física, com uma perna partida. Foi internada num centro temporário de acolhimento de menores. Chegou a território espanhol, mas ainda está longe da terra prometida. Mireille compraria, se pudesse, um visto dourado a Paulo Portas. Acontece que não nasceu no berço certo, não dispõe de um euro, quanto mais de meio milhão. Ainda assim, é seguro que não desistirá. Como milhares de outros que todos os dias cruzam e muitas vezes morrem no Mediterrâneo.
Nesamanimaran é um indiano de 45 anos, herdeiro de negócios na área do imobiliário, restauração, Banca, bebidas e transporte de mercadorias. Sabe-se que, só na Índia, tem lucros anuais de 138 milhões de euros. Tem tudo o que o dinheiro pode comprar. Tudo, menos a possibilidade de entrar e circular sem restrições na Europa, também para ele uma terra prometida. O empresário já tinha comprado, por 50 milhões, um grupo hoteleiro com interesses em Espanha e em Portugal quando ouviu dizer que o nosso país transformara a cidadania num negócio. E que por arrasto viriam as vantagens da cidadania europeia. Nesamanimaran somou mais um milhão ao investimento inicial nos hotéis e com isso comprou um visto dourado a Paulo Portas.
Paulo Portas nunca se cruzou nem cruzará com Mireille. Mas recebeu com pompa Nesamanimaran no Palácio das Necessidades. Na foto da assinatura do contrato em que o Governo de Portugal estabeleceu que é o poder do dinheiro que dita quem tem direito à cidadania, estavam também Miguel Macedo (o ministro caído em desgraça) e Manuel Palos (o polícia suspeito de corrupção). Diz--me com quem andas, dir-te-ei quem és.