A incredulidade inicial começa a chocar de frente com o pragmatismo. As perguntas que queríamos fazer sobre as razões que levaram o avião da Germanwings a despenhar-se nos Alpes, com 150 pessoas a bordo, mudaram subitamente.
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O mistério - parte dele, pelo menos - parece estar decifrado: tratou-se de um ato deliberado, de um suicídio individual que, lamentavelmente, será lembrado como uma tragédia coletiva.
Os próximos dias vão ser decisivos na busca de explicações. O que leva um jovem de 27 anos, bem formado, que vive com os pais e cujo sonho de menino sempre foi voar, a cometer tamanho ato criminoso? Sim, criminoso. Houve 149 inocentes. E um aparente culpado.
Os especialistas que, desde as primeiras horas, foram vertendo teses nos múltiplos palcos mediáticos detêm-se nos aspetos técnicos e de segurança. Questionam se a lógica securitária imposta no pós-11 de setembro ainda devia prevalecer (a blindagem dos pilotos no cockpit é paradigmática); e se não está, ela própria, a transformar-se num perigo. Porque a ameaça nem sempre está do lado de fora da cabina de quem comanda os aparelhos.
Em matéria de segurança, todas as discussões são válidas à luz dos acontecimentos. Há, por exemplo, quem avente a possibilidade/necessidade de os aviões comerciais poderem/deverem ser controlados a partir do solo, como acontece com os drones que vigiam alvos militares e largam bombas a milhares de quilómetros de distância. Para evitar surpresas amargas. Não é certo, porém, que pudesse funcionar.
A verdade é que Andreas Lubitz, a crer nos relatos já conhecidos, passou nas provas psiquiátricas e psicológicas definidoras da personalidade. Terá tido, há uns anos, uma crise de nervos, durante uma formação. Nada mais.
O jovem copiloto alemão será sempre o carrasco desta história tenebrosa. Não era um robô, não ligava e desligava. Tinha falhas. Razões. Fúteis ou doentias. Vontade. E essa, para o bem e para o mal, ainda não se domina com manuais de procedimento, medidas de segurança extrema ou eletrónica. Nas horas sombrias, a vontade, característica que define os homens, vai parecer-nos sempre uma perversão.
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