Ao contrário da maior parte da opinião que se publica julgo que as próximas eleições legislativas não serão decisivas. Sê-lo-ão no sentido estrito do cumprimento do calendário fixado pelo Senhor Presidente da República em entrevista recente. Mas, pelo andar das diferentes carruagens, tudo indica que novo acto eleitoral legislativo acabará por ser convocado em 2016.
Os principais concorrentes - a coligação inexplicavelmente por formalizar e o precário Partido Socialista do dr. António Costa - surgem aos olhos do país desprovidos de quaisquer desígnios de futuro. Parecem velhas comadres aborrecidas com o que lhes vai acontecendo sem conseguirem entender, ou fazer um esforço por entender, o que se passa à sua volta.
Quaisquer programas a apresentar serão sempre mais fruto de ressentimentos do passado e dos passivos respectivos do que de uma ambição federadora susceptível de recolher apoio popular maioritário.
As sondagens revelam esse desmerecimento quando aproximam a "situação" da "oposição" ou quando deixam uns e outros longe de tentações absolutistas demagógicas. Todavia, nada do que começou a acontecer lá fora, sensivelmente há oito anos, é alheio às circunstâncias domésticas. Só que estas agravaram o mal geral muito por causa da impreparação imobilista das nossas elites: nos partidos, nas empresas, nos sindicatos, no sistema financeiro, nas instituições democráticas.
Um regime doente e incapaz não "passa" bem em eleições. Talvez por isso as presidenciais alcancem um outro interesse se assentarem em princípios, num desígnio e numa vontade desprovida de calculismos tagarelas ou enredada em jogos medíocres de oportunidade.
É o que, julgo, representa a boa surpresa da candidatura nacional de Henrique Neto. "Chegou a hora da verdade e da coragem, da lucidez e da experiência se darem as mãos para levar a cabo a transformação necessária e mudar o que tem de ser mudado e que os portugueses reclamam (...) Estamos a tempo de democratizar o regime, de forçar a reforma democrática de que carecemos, de definir uma orientação estratégica para os próximos 20 anos, de criar as condições para uma governação exigente na base do cumprimento das promessas eleitorais de que o Presidente da República deve ser o primeiro e o mais rigoroso garante (usando) até ao limite os poderes presidenciais consignados na Constituição da República e que tantas vezes têm sido ignorados".
