Foi há 41 anos. Era um jovem assistente da Faculdade de Economia do Porto.
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Nesse dia, após a aula do início da tarde dirigi-me a "O Comércio do Porto", na Avenida dos Aliados, onde um ajuntamento de pessoas aguardava ansiosamente notícias sobre o que se passava em Lisboa. A polícia de choque desceu a Avenida e carregou sobre o grupo para o dispersar. Fugimos pela Rua Elísio de Melo acima em direção à Rua do Almada. Nesta, um grupo de militares descia na nossa direção. Tropa e Polícia encontraram-se no cruzamento daquelas ruas. Os militares obrigaram a Polícia a retirar-se. Foi assim que testemunhei a libertação do país da ditadura que nos dominou durante 48 anos. Uma ditadura que nos negou o direito de reunião, mesmo espontânea como aquela. Proibia o pensamento e a expressão livres. Prendia e encarcerava arbitrariamente. Torturava, deportava e assassinava os opositores. Humberto Delgado foi uma vítima entre muitas. Negava o direito dos povos à independência e autodeterminação.
Apesar do surto económico da década anterior, o país revelava um grande atraso face aos demais países europeus. Desde então, Portugal procurou recuperar desse atraso e aproximar-se dos seus padrões. O progresso é assinalável em vários domínios. Com o Serviço Nacional de Saúde melhoraram os cuidados de saúde. No início da década de 70 tínhamos 94 médicos e 159 enfermeiros por 100 mil habitantes. Atualmente temos 433 médicos e 629 enfermeiros. A mortalidade infantil reduziu-se de 55 óbitos por cada 1000 nascimentos para menos de 3. A esperança média de vida à nascença aumentou de 67 para 80 anos. Dispomos de um sistema de proteção social que nos protege no desemprego, na velhice, na doença, etc. Em 1970, 25,7% dos portugueses com 10 ou mais anos de idade eram analfabetos, atualmente temos cerca de 5%. Os níveis educacionais da população elevaram-se. O rendimento per capita passou de 50% para quase 70% da média da UE.
A integração europeia ancorou a democracia portuguesa nas democracias europeias, favorecendo a consolidação dos progressos alcançados pelo novo regime. Há estudos que mostram que o nosso PIB é hoje superior em 21% ao que seria se tivéssemos ficado fora da UE. Estamos claramente melhor. Mas existe ainda um fosso significativo que nos afasta, em vários domínios, da Europa desenvolvida. É na parceria com a UE que teremos que encontrar o caminho de progresso que mantenha vivas as expectativas geradas nestes 41 anos de liberdade e democracia.
ECONOMISTA