Esta crónica, com título roubado a Fernando Pessoa, não está relacionada com o acordo ortográfico ou com a discussão, mais recente, sobre a data da sua entrada em vigor. Sem desprimor para os que se empenham na discussão sobre o seu conteúdo ou oportunidade, estou bastante mais preocupado com uma tendência que se começa a notar no Ensino Superior nacional para nas aulas substituir o português pelo inglês, designadamente nas áreas científicas e tecnológicas.
Com uma "justificação": tendo em conta que o número de alunos portugueses, por questões demográficas e económicas, diminui, a sobrevivência dos estabelecimentos de Ensino Superior passa pela sua capacidade de atração de estudantes estrangeiros, designadamente ao abrigo do programa Erasmus. E, para que estes se sintam motivados a vir para Portugal, é "fundamental", na opinião dos defensores desta ideia, que as aulas sejam lecionadas em inglês...
Estou completamente em desacordo com esta ideia. O inglês é, hoje, um instrumento fundamental de comunicação internacional. Pelo que defendo todas as iniciativas que contribuam para o seu domínio e conhecimento por parte dos portugueses, o que passa pelas escolas. Mesmo sabendo que a atual supremacia do inglês será efémera e fruto da correlação de forças internacional (muito mais dos Estados Unidos da América do que da Grã-Bretanha). E que, no futuro, outras línguas poderão ganhar essa supremacia "económica"...
Agora o que não podemos aceitar é que num dos pilares do país (como deve ser o Ensino Superior), se permita a substituição da língua portuguesa por um idioma estrangeiro. Porque se grande parte da decisão política já é supranacional, se já perdemos a moeda, se os instrumentos fundamentais da economia já estão nas mãos de estrangeiros, se abdicarmos da língua, então mais vale fechar o país e entregar as chaves em Bruxelas!...
Por isso me custa ver elites intelectuais (como devem ser os professores do Ensino Superior) aderirem a esta moda sem qualquer sentido estratégico nacional. Tal como é inadmissível ouvir o presidente da República, que tem a obrigação de ser um garante da soberania nacional, a falar inglês no estrangeiro (e em Portugal!) em sessões públicas. E que, também por isso, depois fale dos "cidadões"...
Não podemos aceitar que num dos pilares do país , como deve ser o Ensino Superior, se permita a substituição da língua portuguesa por um idioma estrangeiro [inglês]
ENGENHEIRO
