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1.Muda de vez o conjunto de regalias tradicionais do "vencedor" das eleições, que será "apenas" o partido ou coligação mais votado, e viva o velho. Aquele que "ganhar" não tem, doravante, a garantia de ser Governo, a não ser que consiga a maioria absoluta no Parlamento.
2. O "vencedor" pode até ser indigitado para formar Governo, conseguir fazê-lo, mas não permanecer mais do que uns dias ou semanas (e nunca meses) no poder.
3. Serão mais prováveis as situações em que o indigitado declinará, por considerar não ter condições (mesmo tendo "ganho" as eleições) para fazer passar o seu programa no Parlamento ou para assegurar um mínimo de estabilidade governativa.
4. Num plano ainda especulativo, a direita terá doravante mais dificuldade em constituir Governo sem maioria absoluta (isto, pressupondo uma direita estável, apenas com PSD e PP), porque o PS poderá sempre ensaiar a sua formação à Esquerda.
5. O PS terá em termos tendenciais mais facilidade em fazer Governo, porque, em tese, consegue negociar com mais facilidade à sua direita e à sua esquerda (mas isso não quer dizer, de forma imperativa, a existência de um acordo).
6. Será doravante menos provável que o PSD viabilize no Parlamento um Governo minoritário PS, por receio de que este ali se eternize com recurso a alianças à direita ou à esquerda. Mas será mais provável uma aliança PS-PP.
7. Haverá menos centro, centro-direita ou centro-esquerda em Portugal e, numa fase inicial de maturação da mudança, menos "moderados". A marca ideológica dos governos tenderá a ser mais forte (mesmo que possa ser mais teórica do que prática).
8. Com um Governo do PS, apoiado por BE e PC (mais os Verdes), quebra-se um dos mandamentos da democracia portuguesa: nunca os comunistas viabilizariam um Governo PS e nunca PS e PC se sentariam à mesma mesa, onde quer que fosse, para negociar esse resultado.
9. Se houver Governo de esquerda, perceber-se-á que PC e BE não têm corninhos e que a treta dos bolcheviques é chão que deu uvas. Essa é a verdadeira revolução: BE e PC poderem ser partidos de poder e isso não ser assustador (mesmo que não se goste "deles").
10. Havendo acordo, a mudança estará essencialmente realizada, mesmo que o presidente da República recuse encarregar António Costa de constituir Governo.