Foi a escrever "só nas horas vagas" que o escritor brasileiro Rubens Figueiredo conquistou, na noite de terça-feira, o Prémio Portugal Telecom de Literatura, com o livro "Passageiro do Fim do Dia".
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Rubens Figueiredo nasceu em 1956, no Rio de Janeiro. Além de escrever, é também professor de português e um dos mais renomados tradutores literários do Brasil, em especial de obras russas.
Mesmo com todo um currículo marcado pelo envolvimento com a língua, o autor diz não ser movido apenas pela palavra. "Eu só começo a escrever quando tenho alguma coisa para dizer", assegurou.
No caso de "Passageiro do Fim do Dia", Figueiredo diz que buscou "abordar coisas quotidianas e sem nexo à primeira vista, algumas banais e triviais, para encontrar nelas sinais de processos vitais que percorrem toda a sociedade".
É sem ter a pretensão de buscar coisas "grandiosas" ou "definitivas" que o livro narra a viagem de um autocarro por ruas congestionadas de uma grande cidade. As observações sobre o que se passa dentro e fora do veículo nesse fim de dia confundem-se com os devaneios do passageiro, Pedro.
Assim como o personagem, andar de autocarro também movimenta os pensamentos do escritor brasileiro, que afirma ter escrito "uns sete livros" nesses trajectos urbanos.
Figueiredo demorou quatro anos para conseguir alcançar o ponto final da viagem de "Passageiro do Fim do Dia", mas nem assim ficou totalmente satisfeito com o resultado.
"Podia ser melhor, mas a gente faz o que pode", disse o escritor, que não sabe explicar como conseguiu, em poucos meses, conquistar dois dos mais importantes prémios de literatura do Brasil - o "Passageiro do Fim do Dia" também foi agraciado com o Prémio São Paulo de Literatura 2011.
As declarações de Figueiredo foram feitas logo após o anúncio do vencedor do Prémio Portugal Telecom, que distinguiu os melhores livros escritos em língua portuguesa e editados no Brasil em 2010.
O segundo colocado foi o livro "Uma viagem à Índia", do português Gonçalo M. Tavares, que define a obra como uma "epopeia contemporânea".
Tavares mostrou-se satisfeito com a aceitação que o seu livro teve no Brasil e destacou as vantagens do intercâmbio literário entre países lusófonos. "As traduções nunca são a mesma coisa", disse o autor.
Marina Colasanti ficou em terceiro com o relato autobiográfico "Minha Guerra Alheia".
Esta foi a nona edição do prémio patrocinado pela companhia portuguesa. Segundo o presidente do Conselho de Administração da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, a escolha da literatura como alvo do incentivo deve-se ao facto de que, hoje, "a língua é um valor muito importante para as empresas de telecomunicação".