O Museu do Resgate vive na internet, mas tem no centro histórico do Porto a sua origem. Projeto de um doutoramento, é também um convite à população e aos turistas para que façam os seus vídeos. Veja o vídeo.
Corpo do artigo
No próprio dia em que a iniciativa foi lançada, em junho passado, surgiu o primeiro contributo. Eram imagens que um miúdo de sete anos captou com o telemóvel da mãe, no mercado da pulga da rua das Flores. Até ontem, o Museu do Resgate contava 170 vídeos feitos no centro histórico do Porto.
Museu porque é um arquivo, resgate porque pretende salvar as memórias pessoais de quem vive nas quatro freguesias abrangidas: Sé, Vitória, S. Nicolau e Miragaia.
Este trabalho está a ser desenvolvido por Daniel Brandão para o seu doutoramento em Media Digitais, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em parceria com a Universidade do Texas, em Austin, EUA.
O objetivo é que o museu fique para sempre. Vive apenas na internet, mais concretamente no Facebook e no Youtube. Mas quem o faz viver são pessoas bem reais, as pessoas do centro histórico. As que lá vivem ou trabalham, as que o visitam. O raio de ação é o mesmo do programa Manobras no Porto, que apoia financeiramente o projeto.
Novo conceito de museu
"A ideia surgiu da vontade de construir um projeto prático sobre documentação, participativo, e também de tentar descobrir um novo coneito de museu, também participativo, aberto e dinâmico, que vive do contributo das pessoas", explica o autor, acrescentando que há "de tudo um pouco" nos 170 contributos já recebidos.
"Há vídeos que são depoimentos ou entrevistas, outros são apenas registos da paisagem", diz, sublinhando ainda a existência de trabalhos "muito experimentais".
Basicamente, qualquer pessoa pode contribuir para enriquecer a criação de Daniel Brandão. Apesar de a origem do Museu do Resgate ser um trabalho de investigação, o autor espera que a participação se mantenha: "O arquivo está online porque assim conseguimos que seja um arquivo vivo, em constante crescimento". Pode, em suma, ser alimentado "ad aeternum".
Professor e investigador da Universidade do Porto, Heitor Alvelos é quem orienta o estudo. "O que está contido na essência do projeto é a ideia de que os media digitais permitem um reinventar da participação dos cidadãos na criação e na comunicação do seu quotidiano", refere-nos.
No seu entender, "é absolutamente incontornável pensar que cada vez mais o conhecimento tem de se confrontar com os novos media".
As instruções para a realização e envio dos vídeos estão em www.museudoresgate.org.
Rusgas em julho
Durante o corrente mês, o autor do projeto anda a trabalhar no terreno, com o objetivo de incentivar as pessoas à partilha de vídeos que já tenham feito ou à captura de novas imagens. Por isso é que, de vez em quando, ele próprio fornece as câmaras aos habitantes para os seus registos.
É no sentido de atrair participantes para o Museu do Resgate que, todos os sábados de julho, Daniel Brandão organiza as rusgas de vídeo. As pessoas levam o seu material e dispõem de uma hora para caminhar pela freguesia em causa à procura de motivos para filmar. Findo esse tempo, entregam os vídeos.
As rusgas começaram na Sé e este sábado é a vez da Vitória, com início às 14.30 horas. O ponto de partida é o miradouro da Bataria da Vitória. A rusga seguinte, a do dia 21, é em S. Nicolau e, por fim, no dia 28 será a vez de Miragaia.
Em setembro, serão feitas sessões de "corte e costura", com as quais se pretende "estimular a criação de novas narrativas ou a reinterpretação deste arquivo", refere o autor. Posteriormente, os resultados serão apresentados a todos, em espaços públicos, montras de lojas e até cafés.