
Atriz, realizadora, cantora, compositora. Uma vida criativa multifacetada define a personalidade, sempre calorosa, da nossa atriz mais conhecida internacionalmente. Para o que contribuiu radicar-se, há muito, em França, de onde tem partido para tantos desafios que tem enfrentado.
O regresso à Lisboa que viu nascer Maria de Medeiros, e onde há muito não vinha, decorreu do convite para ser a madrinha da 13.ª Festa do Cinema Francês, que decorre em várias cidades do país.
Como é que surgiu o convite para ser madrinha da Festa do Cinema Francês?
Foi uma surpresa e uma surpresa muito agradável. Fiquei muito honrada, porque a Festa do Cinema Francês tomou realmente o seu espaço aqui em Portugal. É um verdadeiro encontro com o público, a quem dá a oportunidade de descobrir o panorama do cinema francês, que é um cinema que está vivo, com toda a sua diversidade.
E tem contribuido decisivamente para o retomar do gosto em ver cinema francês...
Para nós é também um exemplo, ver como os franceses defendem e divulgam a sua cultura e o seu cinema. É evidente que eu tenho uma grande relação pessoal com o cinema francês. Estou entre Portugal e França. Ser madrinha da Festa do Cinema Francês aqui em Portugal é uma emoção.
Ao fim destes anos todos radicada em Paris, como é que se sente, mais portuguesa ou mais francesa?
Sinto-me ambas as coisas. Neste momento tenho até dupla nacionalidade. Sinto-me portuguesa, profundamente. Mas tantos anos passados em França e de contacto profundo com a cultura francesa é óbvio que me marcaram. Admiro muito não só a cultura francesa como a política cultural em França.
Como é que, à distância, vê a situação do cinema em Portugal?
Estou assustada. É terrível a situação das pessoas do cinema em Portugal. Oxalá a nova lei seja uma forma de retomar o cinema quanto antes. É evidente que as dificuldades económicas dos países não foram causadas nem pelo cinema, nem pela cultura, nem pelos estudantes, nem pelos doentes. Olho para Portugal com grande tristeza. Há uma grande injustiça.
O "Capitães de Abril" já tem 13 anos. Para quando novo filme de ficção?
Tenho trabalhado em várias ficções, mas a verdade é que tenho feito mais documentários, como realizadora. As ficções são sempre muito curtinhas, e sobretudo no Brasil. Fiz uma curta-metragem para o projecto "O Mundo Invisível", com outras curtas do Manoel de Oliveira, do Atom Egoyan, do Wim Wenders, do Guy Madden.
E a carreira musical, como é que está a decorrer?
Continuo esta carreira musical, inesperada. Vou agora para Madrid, porque sai o terceiro disco. É o primeiro em que compus e escrevi as letras das canções. É uma grande novidade para mim. Como sai em Espanha chama-se "Pajaros Eternos".
Quando é que temos um novo concerto por cá?
Não sei. Uma das coisas que tenho de fazer é ver a saída do disco aqui. Porque compus um fado, foi das primeiras coisas que compus, o que prova que sou portuguesa. Também fiz música para um poema da Sophia de Mello Breyner, "Por Delicadeza", que é um poema de que gosto muito.
Um dos filmes que vai mostrar na Festa, "Galinha com ameixas", foi realizado pela Marjane Satrapi, que veio da animação...
Foi uma grata surpresa, porque acho que a Marjane é um génio. É uma mulher de uma criatividade e de uma inteligência brilhantes. Foi um privilégio trabalhar com ela. Há muita gente da banda desenhada a chegar ao cinema e isso é uma boa noticia.
Em que sentido?
Trazem uma liberdade de perspectiva muito grande ao cinema. Há vários anos que a televisão manda um pouco no cinema e os próprios realizadores acabam por se censurar. E eles, como vêm do desenho, não. Têm aquela liberdade expressiva muito grande. Tudo é possível, com a Marjane.
E para quando um novo filme em Portugal?
Quando voltar o cinema a Portugal. Espero voltar a filmar em Portugal. Temos alguns dos técnicos de cinema mais extraordinários, porque combinam a perfeição técnica com o facto de serem grandes artistas. Há pessoas com personalidades muito criativas. Sonho reencontrar-me com essas pessoas e voltar a filmar com elas.
