
Em dois meses, mais de 34 mil pessoas compraram bilhetes para os primeiros quatro dias de exibição do filme "As cinquenta sombras de Grey". A estreia é na próxima quinta-feira e nunca se viu nada igual.
Os dados mais recentes dão conta de 34 172 bilhetes vendidos nas 55 salas nacionais que aderiram à campanha de pré-vendas, iniciada a 13 de dezembro. Segundo um inquérito realizado por cada cadeia-chave de cinema na última quinzena daquele mês, a maior adesão era do público feminino, sobretudo entre os 20 e os 40 anos.
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De acordo com Isabel Lima, diretora de marketing da NOS Audiovisuais, distribuidora, o filme "é claramente um fenómeno na corrida antecipada às bilheteiras". A mesma responsável refere que, nos dois exemplos anteriores de pré-vendas em Portugal, os documentários sobre os One Direction e Justin Bieber, as vendas rondaram, respetivamente, os oito mil e os 3200 ingressos (em duas semanas).
"As cinquenta sombras de Grey" é a adaptação do primeiro livro da trilogia de E.L. James e esta procura desenfreada de bilhetes não pode descolar-se do fenómeno mundial de vendas que foi o lançamento da história em papel e na Internet. O filme contém cenas sexuais muito explícitas, protagonizadas por Jamie Dornan (no papel de Christian Grey) e Dakota Johnson (Anastasia Steele).
O que poderá explicar tamanho interesse pela trilogia e pelo filme? "O primeiro pensamento que me ocorre é que se trata de um fenómeno revelador de uma certa pobreza dos ficheiros eróticos de cada um, que pode ser indicador da crise do erotismo", refere-nos a psicóloga e sexologista Ana Alexandra Carvalheira. Crise que, explica, se mede "pela banalização do sexo, pela falta de espaço privado e pelo valor do imediato", de que são exemplo os encontros marcados através da Internet.
Para a especialista, também investigadora no Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (Lisboa), o que a trilogia e o filme ofereceram "foi excitação sexual", a par de "estímulos que saem do convencional" - os jogos de submissão-dominação. A propósito, diz que "as pessoas, em particular as mulheres, na nossa sociedade herdeira da cultura judaico-cristã, são mais livres do que nunca de procurar e perseguir o prazer sexual". Tudo junto desencadeou a corrida aos bilhetes.
Quanto à adesão do público feminino entre os 20 e os 40, Ana Alexandra Carvalheira aponta duas explicações: por um lado, "são as mulheres mais jovens", por outro, tiveram uma socialização sexual menos repressiva do que os pais, o que as torna "mais livres e mais disponíveis para procurar satisfação sexual".
Depois do filme, os fãs poderão contar com a comédia musical "50 sombras". Estreia no Tivoli, Lisboa, em abril e passa no Coliseu do Porto em julho.
