O FMI prevê que Portugal poderá ter um défice de 5,6% em 2011, um ponto percentual acima dos 4,6% previstos pelo Governo e assumidos junto de Bruxelas, justificando que as suas previsões assentam num cenário macroeconómico "menos optimista".
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"As projecções da equipa do FMI diferem das autoridades em grande parte porque se baseiam em projecções macroeconómicas menos optimistas", escreve o organismo no relatório "Fiscal Monitor" de abril, sublinhando que as projecções "foram preparadas antes de as autoridades portuguesas terem solicitado a ajuda externa".
O FMI também estima que o esforço de consolidação orçamental que vai ser exigido a Portugal entre 2010 e 2020 é de 6,4%, abaixo dos 12,4% da Irlanda, dos 10,5% da Grécia, dos 9,3% do Reino Unido e dos 8,2% da Espanha. Se considerarmos apenas a Zona Euro, este esforço é o quarto maior.
Numa análise sobre os mercados da dívida, o FMI adianta que "os observadores acreditam que o Banco Central Europeu comprou principalmente títulos da Grécia, Irlanda e Portugal".
"Se (o BCE) apenas comprou títulos destes países, então as compras totais do BCE durante 2010 representam cerca de 87% do défice fiscal nestes países", escreve o FMI.
O FMI também dá conta de que Portugal usou "estratagemas de contabilidade", que podem ter efeitos nos números futuros, nomeadamente o uso do fundo de pensões da Portugal Telecom.
"No curto prazo, estes estratagemas de contabilidade tipicamente aumentam a receita reportada ou diminuem a despesa, mas em troca diminuem receita futura ou aumentam a despesa futura", escreve o FMI.
"O governo português recentemente assumiu os activos do fundo de pensões da Portugal Telecom, numa transacção que reduziu o défice de 2010 do país em 1,5% do PIB.
Outro "estratagema" usado por Portugal, escreve o FMI, foi "diferir o reporte dos gastos".
"Em algumas parcerias público-privadas, o sector privado investe em edifícios públicos ou infraestrutura, e o governo paga por serviços fornecidos pelos ativos nas décadas a seguir. No Reino Unido, as obrigações (para o Estado) criadas por estes acordos ascendem a 2,25% do PIB em Fevereiro de 2010", adianta o FMI.
Já "em Portugal", conclui, "estes acordos criaram obrigações no valor de cerca de 3,5% do PIB (sem contar com as concessões rodoviárias (...)".
O FMI também estima "o tamanho do problema" que os países têm por usar estes estratagemas.
"A própria natureza dos estratagemas significa que dados fiáveis sobre os mesmos são escassos, mas o problema claramente tem sido substancial em alguns países", escreve o FMI.
"(...) O seu impacto médio foi de mais de 2% do PIB por ano na Grécia entre 1993 e 2003, e de cerca de 0,66% em Itália e Portugal", conclui.