O presidente da Sociedade Central de Cervejas classificou como "erro muito grosseiro" o aumento do IVA para 23% na restauração, com consequências "muito preocupantes", e desafiou, esta quarta-feira, o Governo a recuar e a baixar a TSU.
Corpo do artigo
"Foi um erro muito grosseiro ter-se aumentado o IVA na restauração [de 13 para 23%]. Agora, com mais tempo, peço ao Ministério da Economia que reflita, faça o trabalho de casa e olhe para os projetos alternativos apresentados, de modo a dar um impulso à economia. Recuando, inclusive, na taxa do IVA, quando puder ser", defendeu à Agência Lusa Alberto da Ponte, à margem da assinatura de um protocolo com a autarquia de Vila Franca de Xira.
Outra das medidas defendida pelo presidente da SCC para estimular a economia é a redução da Taxa Social Única (TSU). "É das mais elevadas da Europa. Cerca de 10 a 12 pontos percentuais, mais alta do que, por exemplo, os países de Leste. Isso não favorece a economia e está a fazer com que Portugal perca a possibilidade de ter centros de serviços de grandes empresas multinacionais", explicou Alberto da Ponte.
O presidente da SCC afirma que foi solidário com o Governo quando este teve de fazer face a compromissos imediatos mas entende que chegou o momento de haver uma inversão nas medidas aplicadas.
"Agora, com tempo, não percebo porque é que não se reflete e se corrija algumas das coisas que foram feitas, que sobrecarregam a economia, e não se começa a dar finalmente um impulso. Espero que este Governo comece a pensar mais na economia", afirmou.
Com o consumo a baixar e o IVA em 23%, Alberto da Ponte considera que todos sairão prejudicados, mas o setor da restauração será aquele que sofrerá mais os efeitos.
"Vai significar mais desemprego, menor receita fiscal, menos volume de vendas para a indústria cervejeira, dos refrigerantes, das águas, dos cafés e da alimentação. Acho que esse efeito vai ser muito, muito forte. A situação vai ser duríssima para o mercado e a imprevisibilidade sobre a extensão dessa hecatombe, como disse e bem [ontem]o António Pires de Lima, preocupa-me muito".
Para Alberto da Ponte o pior ainda está para vir, nomeadamente "a 15 de abril, quando os operadores de restauração tiverem de desembolsar o IVA".
A manutenção dos postos de trabalho na Sociedade Central de Cervejas sempre foi um "ponto de honra" para o ainda presidente da empresa, que em abril assumirá novas funções na Heineken Western Europe Region.
Quanto à manutenção dos empregos, tendo em conta a queda prevista para este ano de 10% na indústria cervejeira, Alberto da Ponte é cauteloso.
"O que eu não posso garantir neste momento, nem o meu sucessor o poderá fazer, é que, face à imprevisibilidade e à volatilidade do mercado, não sabemos o que vai acontecer", ou seja, "se podemos continuar a manter a rentabilidade da empresa, com a mesma estrutura de custos fixos, onde se incluem os custos com o pessoal", concluiu o responsável.