O Fundo Monetário Internacional está preocupado com o possível contágio que um falhanço do programa de ajuda a Portugal teria na zona euro e defende mais ajuda a Portugal caso o atual programa não produza os efeitos desejados. Considera, também, que a situação social e política portuguesa está "significativamente mais difícil".
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Na sua análise ao abrigo do Artigo IV (exame regular feito a todos os países do fundo) divulgada, esta sexta-feira, juntamente com os memorandos revistos da sexta avaliação do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), o FMI pensa que pode existir um contágio aos restantes países do euro e deixa recomendações caso o programa falhe.
"A economia portuguesa está altamente dependente dos desenvolvimentos na Europa - refletindo fortes ligações financeiras e comerciais - mas a zona euro em particular também seria afetada por efeitos adversos em Portugal caso a estratégia contida no atual programa falhe", escrevem os técnicos do fundo.
A instituição lembra que o contágio se tem espalhado de forma rápida entre os países da periferia, mas também a outros países da zona euro nos últimos anos, incluindo através de um aumento nos preços dos ativos, da deterioração da confiança e de algum retrocesso na integração financeira.
Neste sentido, o FMI defende que é imperativo que tanto Portugal cumpra à risca o seu programa, como os parceiros europeus estejam disponíveis para dar mais financiamento caso o programa não produza os efeitos necessários.
"É assim imperativo que as autoridades portuguesas implementem o programa o mais extensamente possível de forma a evitar o ressurgir de tensões na zona euro. Ao mesmo tempo, particularmente se a implementação do programa não conseguir atingir os objetivos pretendidos, será importante que os parceiros europeus deem o apoio necessário para que o programa continue financiado adequadamente", diz o Fundo.
Neste sentido, o FMI defende que progressos nas mudanças que estão a ser discutidas a nível europeu relativas à arquitetura da zona euro, incluindo os mecanismos de resolução de crises, poderiam facilitar a implementação do programa a Portugal.
Situação social e política "mais difícil"
De igual forma, o FMI considera que a situação social e política em Portugal se tornou "significativamente mais difícil" pelo esforço exigido, que considera ser inevitável devido à falta de alternativas.
"A redução dos desequilíbrios envolve sacrifícios consideráveis na forma de um crescente desemprego e de menor rendimento disponível. A situação social e política está significativamente mais difícil, com a resistência às medidas de ajustamento e às reformas a testar a determinação do Governo", diz o FMI.
Nos documentos divulgados na sequência da sexta avaliação do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), o FMI diz que estas tensões estão por sua vez a causar "incerteza" esta está a minar a confiança dos agentes económicos.
Ainda assim, o FMI diz que o esforço é inevitável devido às poucas alternativas disponíveis.
"Continuar o esforço de ajustamento é inevitável. As dificuldades de financiamento continuam fortes e os níveis de dívida do setor público e privados muito altos. Neste contexto, não há alternativas fáceis a mais ajustamento para controlar as finanças públicas e desalavancar de forma gradual o balanço do setor privado", diz o FMI.
A organização cita ainda as dificuldades de pertencer a uma união monetária para defender a aplicação de reformas estruturais "difíceis" como "a única opção para criar as bases de um ajustamento externo sustentável e forte crescimento económico".
