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Kofi Annan tomou precauções insuficientes para garantir que não existia conflito de interesses nas actividades do seu filho Kojo com uma empresa contratada para o programa "Petróleo por Alimentos" no Iraque, segundo a comissão de inquérito sobre o escândalo.
No relatório hoje divulgado, a comissão, chefiada pelo ex- presidente da reserva Federal norte-americana Paul Volcker, indicou não ter encontrado provas de que o secretário-geral da ONU tenha influenciado a contratação da empresa suíça Cotecna para o programa humanitário da organização no Iraque.
"Nenhum elemento demonstra que a escolha da Cotecna, em 1998, tenha sido resultado de uma influência activa ou inapropriada da parte do secretário-geral no processo de selecção", indica o texto, que, assim, iliba Kofi Annan de quaisquer acusações de tráfico de influência.
"A comissão concluiu que a Cotecna obteve o contrato em 1998, porque apresentou a melhor oferta", prossegue.
A comissão independente considerou, no entanto, "improvável" que o contrato com a Cotecna - empresa contratada pelas Nações Unidas para supervisionar a aplicação dos contratos de importação de mercadorias que o Iraque firmava no âmbito do programa - tivesse sido renovado se Kofi Annan tivesse procedido a um inquérito aprofundado.
O documento denuncia, por outro lado, que tanto Kojo Annan como a empresa suíça ocultaram a verdadeira natureza e duração da sua relação financeira, o que levanta "questões significativas" sobre a integridade do filho do secretário-geral da ONU.
Kojo Annan "participou activamente nos esforços da Cotecna" para esconder as suas ligações com a empresa, lê-se no relatório. "Ele enganou também intencionalmente o secretário-geral (Kofi Annan) sobre essa relação financeira", acrescenta o texto.
"Colocam-se dúvidas importantes sobre as acções de Kojo Annan durante o Outono de 1998 e sobre a integridade dos seus negócios" no âmbito do programa Petróleo por Alimentos, salienta a comissão, afirmando que prosseguirá a sua investigação sobre este ponto.
O relatório acusa ainda a Cotecna de ter feito declarações falsas à ONU, à opinião pública e à própria comissão, ao dizer que Kojo Annan deixara de ter ligações à empresa em 1998 e ocultar que continuou a pagar-lhe mensalmente até 2004.
Kojo Annan trabalhou para a Cotecna entre 1995 e 1997, data em que se tornou consultor para África da empresa suíça, com a qual terminou, teoricamente, qualquer relação financeira em 1998.
Este é o segundo relatório de três previstos sobre o escândalo do programa humanitário da ONU para o Iraque, criado para atenuar as consequências para a população iraquiana do embargo imposto ao regime de Saddam Hussein em 1991, após a invasão do Kuwait.
O objectivo é esclarecer se houve ou não corrupção na gestão do programa Petróleo por Alimentos, que acabou por facilitar subornos milionários ao então presidente iraquiano, Saddam Hussein.
