Corpo do artigo
Não existirão muitos actores que se possam orgulhar de um currículo como o de Leandro Vale. Com uma experiência profissional que já dobrou o meio século, o actor e encenador prepara-se para regressar às origens, instalando-se em Torre de Moncorvo, onde vai dinamizar grupos de idosos e sensibilizá-los para a arte teatral.
Formado pelo Conservatório de Lisboa, Leandro Vale tem dedicado a carreira à promoção da actividade teatral fora dos grandes centros. Uma opção de que nunca se arrependeu, pese embora pudesse angariar maior protagonismo se tivesse respondido afirmativamente aos vários convites para participar em telenovelas. Depois de ter completado 60 anos, preferiu o recolhimento e o apoio à difusão das artes. Idêntica atitude, assegura, deveria ser seguida pelos colegas consagrados, mas "infelizmente, a classe teatral a que pertenço revela, por vezes, flagrante falta de classe"
Anti-subsídios mas não anti-apoios, Vale lamenta as novas regras de atribuição de verbas às companhias e recorda o tempo em que os critérios eram mais apertados. "Os subsídios mensais eram mais justos, pois as companhias tinham que se esfarrapar, sob pena de perderem as contrapartidas estatais", refere.
O saudosismo não é uma das suas características. Ainda assim, não deixa de considerar "lesivas para o teatro" as transformações ocorridas, como a primazia do plano estético em detrimento da representação "Enche-se o olho ao espectador para que ele se esqueça do fraco desempenho do actor".
As críticas ao estado actual do teatro português sucedem-se. "A malta hoje tem a papinha toda feita", diz, numa alusão ao tempo de que os actores dispõem para preparar um espectáculo. "Antigamente, bastava um mês para que colocássemos uma peça de pé, hoje andam por vezes mais de seis meses à volta do mesmo projecto".
Para passar em revista um currículo de que fazem parte 300 peças, Vale tem previsto o lançamento de uma trilogia romanceada intitulada "Afinal há sempre um amanhã".
