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AUniversidade do Porto vai criar,este ano, o primeiro banco público de esperma e óvulos em Portugal, ao qual poderão recorrer casais com problemas de fertilidade, actualmente obrigados a procurar bancos de esperma em Espanha.
Em declarações à agência Lusa, o especialista em medicina de reprodução laboratorial do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Mário Sousa, adiantou que a partir de 15 de Setembro iniciará entrevistas com as mulheres que se apresentarem como voluntárias para doar óvulos para o banco.
Já as entrevistas com os dadores de esperma deverão apenas começar em final de Outubro, quando estiverem concluídas as necessárias obras no instituto e disponíveis os equipamentos para congelar os espermatozóides. De acordo com Mário Sousa, o arranque em pleno do banco está ainda dependente do aval do ministro da Saúde, Correia de Campos, ao pagamento dos encargos com as análises clínicas aos candidatos, pela Administração Regional de Saúde (ARS). "A ARS vê com muito bons olhos estes encargos, que são mínimos, mas estamos ainda à espera da decisão do ministro", referiu.
Segundo salientou o investigador do ICBAS, todos os dadores candidatos serão sujeitos a rigorosos exames de selecção, quer a nível da história clínica pessoal e familiar, quer de análises ao sangue, antes de serem seleccionados par a integrar o banco.
Apesar de aberto a todos os voluntários, o banco excluirá, à partida, aqueles que apresentem factores de risco (como hábitos tabágicos, alcoólicos ou de toxicodependência) ou tenham contraído vírus como as hepatites B e C ou o HIV.
A idade dos dadores é outro dos factores que serão tidos em conta "A margem indicativa, mas não exclusiva, pois depende de cada caso, é de 18 a 35 anos para as mulheres e 18 a 45 para os homens", adiantou Mário Sousa.
De acordo com o investigador do ICBAS, o instituto irá recrutar dadores voluntários através de cartas a enviar a todas as associações académicas e profissionais e disponibilizando o endereço electrónico (m.sousa@icbas.up.pt) para receber candidaturas da população em geral.
A possibilidade de colocar anúncios na imprensa foi, desde logo, excluída, pois a experiência de bancos estrangeiros é de que tal atrairia sobretudo dadores de risco, em busca de dinheiro fácil.
Contudo, explicou Mário Sousa, a doação de esperma não terá qualquer contrapartida financeira. Já as mulheres que doarem ovócitos receberão 750 euros, pelo facto de os procedimentos clínicos implicarem mais de 15 dias de alteração do ritmo normal de vida e pelo menos quatro entradas no hospital. O casal receptor de óvulos doados terá um encargo de mil euros, dos quais 750 euros são para a dadora e 250 para suportar os custos do banco, enquanto o receptor de sémen pagará 250 euros para custear os procedimentos.
Embora possam recorrer ao banco casais de todo o país, Mário Sousa defende que "o país só beneficiava se os Hospitais Universitários de Coimbra e a Faculdade de Medicina de Lisboa tivessem uma iniciativa semelhante". Para além de casais com problemas de fertilidade, poderão também ser beneficiários os doentes oncológicos cuja fertilidade venha previsivelmente a ser afectada com os tratamentos de rádio e quimioterapia. Actualmente, os casais portugueses são forçados a recorrer a bancos privados em Espanha. "Só no Norte estamos a mandar a Espanha cerca de 100 a 150 mulheres e outros tantos homens por ano", adiantou Mário Sousa.
Com Lusa