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A o entrar no número 9 da Rua do Ateneu, na freguesia de Alhadas, Figueira da Foz, os aromas não mentem. O cheiro do Bolo das Alhadas, da broa de milho e das rosquilhas de azeite mistura-se, invadindo todos os sentidos do consumidor. O corrupio de clientes revela o sucesso da "Leonor dos Bolos".
A casa comercial - que passa despercebida aos forasteiros - é uma das três últimas na freguesia a confeccionar o Bolo das Alhadas, de fabrico tradicional, e cujo futuro é incerto. "É uma vida muito trabalhosa e os jovens não se interessam por aprender esta arte", desabafou ao JN Maria do Céu, sobrinha de Leonor Gil, "a D. Leonor", a proprietária, que ontem comemorou 83 anos de idade.
"O negócio já esteve muito melhor. Há 15/20 anos, vendia-se e via-se o dinheiro na gaveta. Hoje o bolo é um artigo de luxo", acrescentou.
O sucesso da "Leonor dos Bolos" é incontestável. O segredo passa por "fazer tudo como antigamente" Há mais de 50 anos que confeccionamos os nossos produtos sempre da mesma forma, manualmente", revela Maria do Céu.
A padeira defende que o bolo "não pode ser industrializado". "Se o bolo for feito de outra maneira perderá as suas características típicas", defendeu.
Na loja, seis Marias mantém viva uma tradição. Maria do Céu (gerente), Maria de Lurdes, Maria Hermínia e Maria Natália (funcionárias), Maria Adelaide (familiar) e Maria Odete, uma vizinha que dá uma ajuda. E até a "matriarca", Leonor, que, apesar dos problemas de saúde, é presença diária na loja. Sentada no seu banquinho vai enrolando as rosquilhas. "Homens aqui nunca trabalharam", revelam.
Segredo bem guardado
A origem do Bolo das Alhadas perde-se no tempo e o segredo do seu fabrico sido transmitido - "religiosamente em segredo" - de pais para filhos. Neste caso de tia para sobrinha. "Aqui a rotina é sempre a mesma. Às 6h30 a Adelaide acende o forno e, uma hora depois, a Hermínia vem amassar a broa", contam. Tudo começou há 54 anos atrás. Para sobreviver às dificuldades, D. Leonor abriu uma padaria. Hoje, a sobrinha, Maria do Céu, apesar das dificuldades - "e das exigências da ASAE" - recusa baixar os braços em nome da tradição.
"Não temos grandes ajudas mas, enquanto puder, não queremos revendedores para não venderem à nossa sombra e desvirtuarem o produto", concluiu
O bolo é de confecção simples e com ingredientes vulgares. Farinha, açúcar, ovos, limão, manteiga, canela, fermento, sal e água, são os componentes da guloseima de fabrico artesanal.
Amassado manualmente e cozido, durante cerca de 20/30 minutos, num forno de lenha, o doce é adorado por muitos locais e turistas e pode ser comprado na padaria da D. Leonor ou na banca que a sobrinha, Maria do Céu, tem no mercado municipal da Figueira da Foz.