Coimbra: Petição com 400 assinaturas contra demolições na Baixa entregue na Câmara
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Coimbra, 18 Nov (Lusa) - Uma petição com cerca de 400 assinaturas contra as demolições previstas na Baixa de Coimbra para a passagem do metropolitano ligeiro de superfície foi hoje depositada na Câmara Municipal pelos promotores da iniciativa.
"Qual a legitimidade de promover a destruição do coração da cidade medieval sob o argumento dos edifícios que o constituem se encontrarem em mau estado de conservação, numa altura em que a engenharia permite soluções de reforço estrutural, de consolidação e de conservação cada vez mais evoluídas?", é questionado na petição.
Segundo o documento, dinamizado pela Associação Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana (OPRURB), "é um facto que muitos dos prédios da Baixa ostentam, desde há vários anos, um acentuado estado de degradação" e que muitos se encontram "em condições deploráveis".
Contudo, entendem os peticionários, a demolição, sendo a "solução mais fácil e a que melhor atenderá aos interesses do Metro Ligeiro do Mondego, não é necessariamente a mais barata e a que melhor serve a cidade e o seu património", pelo que pedem que seja parada.
"O que parece não ter entrado em linha de conta é a identidade urbana de toda esta zona, a aposta a fazer na requalificação e recuperação do seu património, o incontornável valor urbano, histórico e sociológico da Baixa", frisam.
Para os subscritores da petição, entre os quais se contam, entre outros, professores universitários, arquitectos, engenheiros, estudantes, de Coimbra e de fora da cidade, "não há razões que justifiquem a destruição deliberada, organizada, meticulosamente preparada sob a capa de uma legalidade apressada e tecnicamente discutível que permitam descaracterizar irreversivelmente todo um núcleo urbano homogéneo e sedimentado".
"Se a passagem do Metro é razão para estas acções porque não rever a trajectória definida?", defendem.
Para os peticionários, "os erros do passado, de que Coimbra foi vítima ao longo de todo o Século XX, deveriam servir para uma reflexão sobre a irreversibilidade destas atitudes".
"Não há quem não lamente, hoje, a destruição da Alta. Poucos há que não condenem a especulação imobiliária, o crescimento desenfreado e caótico da cidade e as duvidosas opções urbanísticas dos anos 70, 80 e 90 do século passado. Não é possível reparar esses erros, mas é certamente possível definir uma acção mais inovadora, de criação e não de destruição, de recuperação e de dinamismo, seguramente mais ecológica, mais económica e mais exemplar", sustentam.
Segundo o presidente da OPRURB, Filipe Mário Lopes, que foi durante dez anos director municipal da Reabilitação Urbana na Câmara de Lisboa, é possível recuperar mesmo o edificado mais degradado e "reabilitar é mais barato do que construir de novo".
"Estas habitações nos centros históricos têm um valor patrimonial, é a memória, a identidade das cidades que estão em causa", disse à agência Lusa.
A petição foi depositada, ao final da manhã de hoje, por baixo da porta do edifício da Câmara, tendo depois um grupo de cerca de duas dezenas de peticionários, oriundos de vários pontos do país, visitado os locais onde estão foram realizadas e estão previstas demolições, entre as Ruas Direita e da Sofia.
MCS
Lusa/fim
