
Álvaro Isidoro/Global Imagens
José Sócrates recusa mesmo a medida de prisão domiciliária com pulseira eletrónica proposta pelo Ministério Público. Decisão não será impeditiva de o juiz Carlos Alexandre o sujeitar à obrigação de permanência na habitação.
Numa declaração a que o JN teve acesso, o ex-primeiro-ministro diz que "a prisão constituiu uma enorme e cruel injustiça. Seis meses sem acusação. Seis meses sem acesso aos autos. Seis meses de um furiosa campanha mediática de denegrimento e de difamação, permitida, se não dirigida, pelo Ministério Público".
Recorde-se que a proposta do Ministério Público foi revelada no sábado aos jornalistas, pelo advogado João Araújo, à saída do Estabelecimento Prisional de Évora. João Araújo acrescentou, na altura, que a medida de coação de José Sócrates, que se encontra detido preventivamente desde 25 de novembro de 2014, seria analisada na terça-feira e que o ex-líder socialista se iria pronunciar sobre a questão.
Na declaração desta segunda-feira, José Sócrates critica ainda "a prisão preventiva usada para investigar, para despersonalizar, para quebrar, para calar, para obter sabe-se lá que "confissões". Sublinha sobretudo não pactuar "com a utilização da prisão domiciliária com vigilância electrónica como instrumento de suavização, destinado a corrigir erros de forma a parecer que nunca se cometeram. Estas 'meias-libertações' não têm outro objetivo que não seja disfarçar o erro original e o sucessivo falhanço: depois de seis meses de prisão, nem factos, nem provas, nem acusação", reitera.
Sublinha ainda que apesar de ser má decisão, "no que ela significa de sacrifício pessoal e, principalmente, no sacrifício que representa para a minha família e para os meus amigos" e, por respeito a si próprio, não pode aceitar a prisão domiciliária.
Esta decisão de José Sócrates não será impeditiva de o juiz Carlos Alexandre o sujeitar à obrigação de permanência na habitação, embora sem vigilância eletrónica.
José Sócrates foi detido a 21 de novembro de 2014, no aeroporto de Lisboa, no âmbito da "Operação Marquês". Está indiciado pelos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção, sendo o único arguido ainda em prisão preventiva neste processo, depois de o empresário Carlos Santos Silva ter passado a prisão domiciliária, com pulseira eletrónica, no final de maio.
No âmbito do processo, são ainda arguidos os empresários Joaquim Barroca Rodrigues, do Grupo Lena, Lalanda de Castro e Inês do Rosário, mulher de Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e o antigo motorista de José Sócrates João Perna.
