
O primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, ironizou, esta segunda-feira, sobre as "bunga-bunga" (as festas libertinas que realiza na sua residência particular) no início de uma conferência de Imprensa com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Ao apontar para um quadro do século XIX pendurado por detrás da mesa, no qual pode-se apreciar Apolo a tocar lira acompanhado por nove musas, o "Cavaliere" disse: "É uma bunga-bunga do ano de 1811".
"A ironia é sempre importante", declarou o chefe do Governo italiano, de 74 anos. Berlusconi terá de responder à Justiça num processo em que é acusado de ter pago para ter relações sexuais com uma jovem de 17 anos e de se ter aproveitado das suas funções para tentar dissimular o escândalo.
Segundo várias acusações, as orgias tinham lugar na residência de Berlusconi em Ancore, próximo de Milão, onde várias mulheres nuas dançavam à sua volta.
Ruby, a jovem bailarina de um clube nocturno protagonista do processo, afirmou aos advogados que o próprio Berlusconi classificava aquelas noites loucas como "bunga-bunga".
Depois da conferência de Imprensa, Benjamin Netanyahu mostrou o seu interesse em relação aos tesouros artísticos de Itália, referindo-se à praça Navona e à sua famosa fonte, do escultor do século XVII Gian Lorenzo Bernini. Depois de um longo intercâmbio de elogios entre os políticos, entraram no centro dos problemas: o conflito israelo-palestiniano.
Silvio Berlusconi já não poderá alegar compromissos governamentais para faltar aos julgamentos nos quais é arguido. Esta é uma das conclusões do referendo desta segunda-feira, no qual os italianos votaram desfavoravelmente ao primeiro-ministro em todas a questões.
A maioria dos italianos - cerca de 95% - rejeitou, em referendo, todas as propostas defendidas por Berlusconi. Desde logo, a lei do legítimo impedimento, que tem permitido ao primeiro-ministro italiano esquivar-se do banco dos réus em quatro julgamentos, alegando imunidade judicial com base na sua agenda de primeiro-ministro. Mas os italianos também disseram "não" ao regresso da energia nuclear e à privatização da água e consequente aumento da factura.
Os primeiros dados apurados indicavam uma afluência às urnas de 57%, o que garante a aplicação obrigatória dos resultados do referendo. É a primeira vez, em 18 anos, que um referendo tem efeito vinculativo em Itália.
Duas derrotas em 15 dias
O resultado traduz-se também na segunda derrota política para Berlusconi em duas semanas, depois de ter saído perdedor das eleições municipais. "Parece que a vontade dos italianos é muito clara em todas as questões deste voto", declarou o chefe do Executivo em comunicado. "O Governo e o Parlamento têm o dever de aceitar plenamente as respostas dadas nos referendos", reconheceu.
O líder do Partido Democrata, principal força da Oposição, Pier Luigi Bersani, veio de imediato defender que "o resultado do referendo mostra o divórcio entre o Governo e o país", manifestando-se dessa forma uma "exigência de mudança".
Analistas políticos citados pela Imprensa italiana consideram que Berlusconi sai muito enfraquecido destas duas derrotas consecutivas e há quem questione as condições para "Il Cavaliere", como é conhecido pelos italianos, conduzir a sua legislatura até ao fim. Sabe-se que Berlusconi se encontra a pressionar o seu ministro das Finanças, Giulio Tremonti, para baixar os impostos, numa tentativa de travar a sua fraca popularidade.
