
Uma menina tímida de oito anos está no centro de uma guerra religiosa entre judeus, em Israel. Naama Margolese, de oito anos, foi insultada a caminho da escola por ultra-ortodoxos, por vestir-se "de forma imoral".
Naama Margolese é uma menina de oito anos que tem medo de ir sozinha para a escola, que dista cerca de mil metros de casa. O problema desta israelita são outros israelitas, judeus, também, mas ultra-ortodoxos, que estão a protestar de forma cada vez mais violenta em Israel.
A menina, de oito anos, foi vítima de uma espécie de "bullyng" religioso, na semana passada, quando ia a caminho da escola. Por não se vestir ao gosto dos judeus ultra-ortodoxos, foi abordada na rua por alguns homens que lhe cuspiram e chamaram prostituta.
"Quando ia caminho da escola ficava com dores de barriga. Tinha tanto medo que eles aparecessem e começassem a gritar comigo e a cuspir", contou Naama Margolese, numa entrevista à agência de notícias AP. "Eram assustadores, não querem que vamos à escola", acrescentou.
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Naama Margolese achou-se, assim, no meio da discussão sobre o extremismo religioso crescente dos judeus ultra-ortodoxos em Israel. Um programa de televisão israelita contou a história da menina e o país ficou indignado.
A escola de Naama, filha de imigrantes norte-americanos em Israel, fica na fronteira ente o bairro ultra-orotodoxo e uma comunidade de judeus ortodoxos modernos, muitos deles imigrantes dos EUA, na cidade de Beit Shemesh, a Oeste de Jerusalém.
Os ultra-ortodoxos consideram a escola, que se mudou para aquele local no início do actual ano lectivo, como um colonato no seu território. Dezenas de homens ultra-ortodoxos acossam fisicamente as meninas quase diariamente, considerando que a simples presença de crianças como Naama Margolese é uma provocação.
Judeus de variados graus de ortodoxia e laicidade seguiram para Beit Shemesh para se juntarem aos moradores locais num protesto contra o fanatismo religioso e a violência.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que "Israel é um Estado democrático, ocidental e liberal". Afirmações que não foram capazes de travar os confrontos que têm surgido.
Segundo o jornal Washington Post, a crescente comunidade ortodoxa de Beit Shemesh colocou sinais nas ruas a exigir a separação de sexos nos passeios e criou "patrulhas de modéstia", para reforçar a castidade da indumentária feminina.
Os ultra-ortodoxos disseminaram vários cartazes pelas ruas a exortar as mulheres a vestirem-se de forma modesta, sem decotes, com blusas de manga comprida e saias compridas. Uma indumentária que não salvou Naama, que estuda numa escola religiosa e veste saia comprida e blusa da manga comprida.
"Este é um fenómeno que contraria a tradição judia e o espírito da bíblia", argumentou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. No entanto, a segregação de género e a falta de respeito pela condição das mulheres não é nada de novo nas zonas ultra-ortodoxas, que representam 10% da população de Israel, mas tem merecido críticas crescentes da generalidade da sociedade israelita.
