Oficial britânico diz que obrigação do comandante ser o último a sair do navio é um mito
A ideia de que o comandante deve ser o último a abandonar o navio em caso de naufrágio é um mito e não uma obrigação jurídica, afirmou, esta quinta-feira, um antigo oficial da marinha britânica.
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"Não há bases na lei internacional para a noção de que o comandante deve ir ao fundo com o navio ou mesmo que deve ser o último a abandonar o navio", disse Alan Massey, numa conferência de imprensa em Londres organizada por representantes do sector dos cruzeiros.
O presidente executivo da Agência Marítima e Costeira britânica, entidade responsável implementação da lei de segurança nos mares, admitiu mesmo que "em muitos casos talvez não seja o passo mais apropriado a tomar".
Embora algumas companhias possam ter esta política, vincou que "do lado do regulador é mais um mito do que a realidade".
Massey falava a propósito do naufrágio do paquete "Costa Concordia" na sexta-feira perto da ilha italiana de Giglio, resultando em pelo menos 11 mortos, enquanto 21 pessoas continuam desaparecidas.
Na segunda-feira, uma juíza italiana decidiu colocar o comandante do «Costa Concordia» sob prisão domiciliária por ter encontrado "graves indícios de culpabilidade", nomeadamente não ter tentado subir a bordo durante a evacuação do navio naufragado.
A presença no navio de "outros membros do pessoal e oficiais que desenvolviam esforços para retirar os passageiros desmente objectivamente as declarações do comandante sobre a impossibilidade de dirigir os procedimentos de emergência e socorro", escreveu a juíza Valeria Montesarchio na fundamentação da sua decisão, citada pelos 'media' italianos.
A juíza considerou também que o comandante, Francesco Schettino, não fez "nenhuma tentativa séria" para regressar "pelo menos para perto do navio", depois de o ter abandonado em pleno processo de evacuação.
Depois de descer, escreveu a juíza, o comandante permaneceu durante horas nas rochas a assistir às operações de salvamento.
O comandante, detido no sábado, é alvo de um inquérito da procuradoria de Grosseto por homicídio múltiplo por negligência, naufrágio e abandono de navio, acusações pelas quais pode ser condenado a 15 anos de prisão.
Na mesma conferência de imprensa, onde estiveram a Associação Internacional das Linhas de Cruzeiro, o Conselho Europeu de Cruzeiros e a Associação dos Navios de Passageiros, o engenheiro naval Tom Allen rejeitou que os procedimentos de salvamento sejam mais demorados em embarcações de maior dimensão.
"Quando são maiores, têm maior flexibilidade, permitem ter outras formas de segurança que de outra maneira seria impossível", garantiu o presidente do Forum para a Segurança de Cruzeiros.