O porta-voz do partido de extrema-direita grego Aurora Dourada está a ser procurado pela polícia após a emissão de um mandado de captura, na sequência da agressão a duas políticas de esquerda durante um debate televisivo.
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A tensa campanha eleitoral da Grécia conheceu esta quinta-feira uma nova escalada na sequência do incidente que envolveu Ilias Kasidiaris e duas representantes da Syriza (Coligação da esquerda radical) e do Partido Comunista (KKE), após uma troca de insultos.
O representante do partido de extrema-direita conseguiu escapar dos estúdios da televisão privada Antenna, onde decorria o debate com representantes dos sete partidos que elegeram deputados nas inconclusivas legislativas de 6 de maio. Os procuradores emitiram de imediato um mandado de captura.
A Aurora Dourada, que elegeu 21 dos 300 deputados e tem negado veementemente o libelo neonazi, é acusada de violentos ataques contra os imigrantes em Atenas. Os seus líderes têm negado o envolvimento e definem-se como um grupo nacionalista e patriótico que pretende a expulsão dos imigrantes ilegais e o combate à criminalidade nos subúrbios de Atenas.
O partido, que pela primeira vez elegeu deputados desde o regresso da democracia à Grécia em 1974, propôs ainda a colocação de minas antipessoais ao longo da fronteira da Grécia com a Turquia para dissuadir a imigração clandestina.
A agressão "permitiu mostrar ao público o que já era conhecido", considerou a coligação de esquerda Syriza, cuja representante no debate, Rena Dourou, foi atingida com a água lançada por Kasidiaris.
Trata-se da "verdadeira face desta organização criminal", considerou ainda o partido, que nas legislativas de 17 de junho disputa o primeiro lugar com os conservadores da Nova Democracia.
O tema de debate a sete centrava-se nos recursos naturais da Grécia, mas depressa resvalou para a turbulenta história do país no século XX, que após a ocupação alemã durante a II Guerra Mundial conheceu uma violenta guerra civil entre as forças de esquerda e de direita, concluída em 1949 com a derrota dos comunistas e aliados, para além de uma ditadura militar entre 1967 e 1974.
Kasidiaris insultou a representante do Partido Comunista (KKE) Liana Kanelli no debate ao designá-la como "sua velha comuna", e obteve uma resposta imediata de "fascista".
Kasidiaris também se mostrou ofendido quando Dourou fez referência a um caso judicial em que o seu nome está envolvido e relacionado com um ataque a um estudante em 2007.
A situação ficou fora de controlo quando Dourou, 58 anos, considerou que "existe uma crise da democracia quando quem pretende fazer recuar a Grécia 500 anos consegue obter representação parlamentar".
Kasidiaris, 31 anos e no passado se alistou nas forças militares de elite gregas, lançou a água do seu copo à cara de representante da Syriza. De seguida, a dirigente do KKE reagiu e lançou um diversos documentos em direção ao porta-voz da Aurora Dourada, que de imediato agrediu Kanelli com três estaladas.
O debate foi de imediato interrompido pelo moderador Giorgos Papadakis, e recomeçou pouco depois já sem presença de Kasidiaris, que conseguiu escapar dos estúdios. Após a emissão do mandado de captura, a polícia desencadeou uma operação para deter o porta-voz da Aurora Dourada.
Um representante do governo de gestão reagiu aos acontecimentos para "condenar da forma mais categórica a agressão" e que significa "um ataque contra todos os cidadãos democráticos".
Através de um comunicado, a Aurora Dourada justificou-se ao referir ter sido Kanelli quem primeiro agrediu Kasidiaris "atingindo-o de forma provocatória na cara com um maço de documentos".
"A Aurora Dourada continua a lutar por um forte movimento nacionalista contra quem, e naturalmente contra os órfãos de Marx, domina os canais televisivos e promove um sujo jogo de propaganda", referiu ainda o partido de extrema-direita.
A Grécia foi de novo convocada para eleições legislativas antecipadas em 17 de junho, após o escrutínio de 6 de maio, caracterizado pela emergência das forças radicais de esquerda e de direita que se opõem ao memorando de entendimento com os credores internacionais, não ter permitido a formação de uma estável maioria parlamentar.