
Sara Naomi Lewkowicz / World Press Photo
Uma imagem vale mais do que mil palavras. À foto de Sara Naomi Lewkowicz, vencedora de um dos prémios do World Press Photo, faltam as palavras que explicam história por detrás da imagem da pequena Memphis, de dois anos, desesperada a chorar e a correr para junto da mãe que está a ser agredida pelo namorado.
A fotografia levantou polémica desde que foi publicada pela primeira vez, em dezembro de 2012. Nas redes sociais, levantaram-se vozes indignadas pela presumível passividade de Sara Naomi Lewkowicz.
A fotógrafa, de 30 anos, foi acusada de conduta antiética por não ter tentado travar a agressão de Shane a Maggie, de "voyerismo", de ter preferido garantir uma boa foto a ajudar a vítima.
Na semana passada, quando foram conhecidas as imagens vencedoras do World Press Photo muitos voltaram a questionar em que circunstâncias foi capturada a foto que ganhou na categoria de Histórias Contemporâneas. A legenda informa apenas o que se vê: "A pequena Memphis, de dois anos, corre e coloca-se entre a mãe Maggie, que está a ser ameaçada pelo namorado Shane".
Sara Naomi Lewkowicz conheceu Shane e Maggie, dois meses antes da foto que lhe valeu o prémio. Viu-os num festival, no Ohio, EUA. O corpo de Shane coberto de tatuagens, entre elas uma em letras garrafais no pescoço: "Maggie Mae", chamou a atenção da fotógrafa freelancer. "Segurava no colo uma linda menina de caracóis loiros. A delicadeza que tinha com ela desmentia as tatuagens intimidantes. Aproximei-me para perguntar se lhe podia fazer um retrato", escreveu Lewkowicz, na Time, em junho de 2013.
Sara acabou por ficar além do retrato e soube da história do casal, que namorava há um mês. Shane, de 31 anos, contou que lutou contra o vício da droga e que passou a maior parte da sua vida na prisão.
Maggie, de 19 anos, mãe de Memphis, de dois anos, e Kayden, de quatro, falou de como viu a mãe morrer de overdose, quando tinha oito anos, e de como era difícil criar duas crianças sozinha. O pai dos filhos é militar e estava em serviço no Afeganistão.
Antes de se despedirem, Lewkowicz perguntou se podia continuar a documentar a vida dos dois. Interessava-lhe retratar a reintegração e a dificuldades de um ex-condenado no regresso à vida em sociedade.
Aceitaram. Tudo correu como o previsto até à noite em que a foto premiada foi tirada. Shane e Maggie estavam em casa de uns amigos, numa cidade vizinha, onde Shane tinha arranjado um emprego temporário.
O casal foi a um bar, com o outro casal amigo, mas Maggie regressou mais cedo a casa, aborrecida com a atenção que Shane dispensou a outra mulher. No final da noite, já em casa, Maggie e Shane envolveram-se numa longa discussão, de berros em escalada até à violência física.
Shane atacou a namorada, atirou-a contra cadeiras, contra as paredes e os armários da cozinha, em frente à filha mais nova de Maggie.
Sara Naomi Lewkowicz registou a agressão. O choro desesperado de Memphis. É o que a imagem e a legenda contam.
Pelo meio, Lewkowicz recuperou o telemóvel dela do bolso de Shane - tinha-lho emprestado no bar e ele não o tinha devolvido - e passou-o aos outros dois amigos do casal para que chamassem a polícia. Também a criança foi retirada do local segundos após o momento da foto, esclareceu a fotógrafa.
Shane voltou para a prisão, acusado de violência doméstica e de ter violado a liberdade condicional. Maggie voltou com os filhos para o Alasca, onde tenta reconstruir a vida com o ex-marido e pai dos filhos.
A Time mostra uma reportagem multimédia, resultado do acompanhamento de Maggie antes e depois do ataque.
