
A questão é colocada por vários especialistas ouvidos pelo JN. Mas a resposta só será conhecida quando se analisarem os registos das caixas negras, uma das quais já recuperada.
Unânimes, também, em dissociar a tragédia que vitimou 150 pessoas do facto de o voo ser operado por uma companhia "low-cost" e do Airbus A320 ter 24,3 anos.
"A configuração do acidente é muito estranha. É estranho não ter havido nenhuma comunicação. O piloto sabia o que tinha pela frente, montanhas com dois mil metros de altitude, é estranho que não tenha virado para uma área plana", explica José Queiroz, ex-vice-presidente da TAP e ex-presidente do Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC). O termo é igualmente usado pelo antigo comandante e especialista em Direito Aéreo Paulo Soares: "O que para mim é estranho é não considerarem uma perda de 4036 pés por minuto uma descida de emergência. Podia ter esbarrado com um avião que andasse abaixo dele".
Consultando o registo de voo - que descolou às 10 horas (menos uma em Portugal) de Barcelona com destino a Düsseldorf - verifica-se que o avião da Germanwings começou a perder altitude às 10.31 horas, marcando 37 600 pés. Às 10.35 horas, estava nos 24 100 pés e, passados seis minutos, nos 6800. Uma descida de emergência que, segundo as regras da aviação, obriga a um pedido de ajuda.
Resta saber, explica o comandante da TAP António Reis, "se tiveram tempo para pedir ajuda". Para o também membro da direção da Associação de Pilotos Portugueses de Linha Aérea, "a descida, embora rápida, não está fora dos valores normais de uma descida de emergência". Por isso, adianta, mais do que conjeturas, "importa agora perceber o que se passou e levou a que descessem".
Segurança apertada
O antigo líder do INAC admite, por seu turno, a possibilidade de alguma "superfície móvel (asa, flaps) ter entrado em colapso". José Queiroz, que foi um dos fundadores da Agência Europeia de Segurança Aérea, lembra que os padrões europeus são muito rígidos, mas tal não significa que não possa haver problemas, independentemente de ser uma low-cost ou não.
O avião acidentado, conforme revelou o CEO da Germanwings, tinha sido alvo de uma revisão de rotina na véspera e de uma de fundo em 2013. José Queiroz explica que tal "não significa, de maneira nenhuma, que não haja qualquer coisa que ficou com problemas, mesmo depois de uma manutenção de rotina".
António Reis e Paulo Soares frisam, igualmente, que as regras de segurança e as inspeções são iguais para todos, destacando ainda o facto de a manutenção da frota da Germanwings estar a cargo da "reputada" Lufthansa.
Quanto à idade do avião, garantem ser uma falsa questão, já que todas as peças são substituídas. "A TAP operou 707 com o dobro da idade", recorda o seu antigo vice-presidente.
