A manifestação de hoje em São Paulo, menos participada do que a realizada em março, reuniu dezenas de milhares de pessoas e teve como principal reivindicação o "impeachment" (impugnação do mandato) da Presidente, Dilma Rousseff.
Ao contrário do sucedido no protesto de 15 de março, durante o qual a reforma política e o fim da corrupção foram abordadas por mais pessoas, e um dos principais grupos organizadores colocou-se contra a deposição de Rousseff, na manifestação de hoje o "Fora, Dilma" era o grito hegemónico.
"Nós não estamos aqui apenas contra a corrupção, estamos aqui contra um partido golpista", afirmou Renan Santos no carro de som do Movimento Brasil Livre, após criticar os partidos de oposição a Rousseff por não apoiarem a impugnação do seu mandato.
O número de participantes foi visivelmente menor do que na última manifestação, realizada a 15 de março, quando a Polícia Militar estimou a presença de um milhão de pessoas. A estimativa de hoje não foi divulgada até às 17:00 horas em São Paulo (21:00 horas em Lisboa).
"Não sei o que aconteceu, talvez [as pessoas] tenham uma esperança pelo que o [ministro da Fazenda, Joaquim] Levy está tentando fazer", afirmou Ricardo Castilho, 37 anos, referindo-se à reforma fiscal proposta pelo ministro.
O protesto contou com diferentes carros de som na avenida Paulista, que representavam diferentes grupos, entre eles o Movimento Brasil Livre, os Revoltados Online e o Vem prá Rua, além de grupos que defendiam o liberalismo, o militarismo e ligados a partidos políticos opositores à Rousseff.
O Partido Solidariedade (criado por sindicalistas) espalhava autocolantes com a inscrição "Fora Dilma" e reunia assinaturas pedindo o "impeachment" da Presidente.
Uma minoria dos manifestantes defendia uma intervenção militar e a maioria dizia-se contra uma suposta "ameaça comunista e bolivariana" representada pelo Partido dos Trabalhadores (PT, de Rousseff).
"Eu não quero a América do Sul comunista, não quero virar Venezuela, não quero virar Cuba, nem Bolívia. Nenhum brasileiro quer virar bolivariano, é virar porcaria", afirmou a reformada Stella Morelli, 75 anos, que defende a convocação de novas eleições.
O "impeachment", para a maioria dos manifestantes ouvidos pela Lusa, seria o primeiro passo para uma mudança política, mas poucos concordariam com a permanência do vice-presidente, Michel Temer, como governante. Caso a impugnação ocorresse, seria Temer a assumir o cargo.
Entre os manifestantes de hoje, estavam cidadãos mais velhos, com famílias que levavam os seus filhos e idosos, algo diferente do que aconteceu nos protestos anteriores, cuja presença maioritária era de estudantes.
Vendedores ambulantes aproveitaram a manifestação para fazer negócio: churrasco, bandeiras, faixas, autocolantes e até pinturas no rosto eram vendidos. Entre os vendedores, eram comuns as críticas ao PT, mas com um pedido de reformas.
"Na verdade, não quero que ela (Rousseff) saia, mas que melhore o Governo", afirmou o vendedor Adílson José dos Santos, 45 anos.
