O apresentador de um programa de televisão paquistanês tem dado bebés, em direto, a famílias sem filhos, naquela que está a ser considerada uma guerra sem escrúpulos para conseguir audiências.
Corpo do artigo
Chama-se Aamir Liaquat Hussain, tem 41 anos é uma das personalidades televisivas mais populares do Paquistão. Tornou-se mais conhecido no último mês quando, em direto durante o seu programa, deu duas raparigas abandonadas pelas famílias a casais sem filhos.
"Se não tivéssemos encontrado este bebé, um gato ou um cão tinha-o comido", anunciou Aamir em frente às câmaras, carregando ao colo uma menina com poucos meses, embrulhada numa manta cor-de-rosa e vermelha, que entregou aos seus novos pais. Esta semana, pretende dar um rapaz a uma nova família.
Durante a emissão, Aamir Hussain costuma cozinhar, entrevistar sacerdotes e celebridades, entreter crianças e dar prémios à audiência, caso responda corretamente a perguntas sobre o Islão. Motas, telemóveis e até mesmo propriedades são os prémios que a audiência habitualmente recebe das mãos do apresentador. Mas no início de julho, o mês sagrado do Ramadão, a luta das estações televisivas pelo controle de audiências intensificou. Foi nessa altura que Hussain presenteou duas famílias com dois bebés que captaram a atenção dos espectadores e conseguiram os aplausos do público em estúdio.
"Disseram-nos que tínhamos passado todas as entrevistas e sido seleccionados para adoptar um bebé", contou Riaz Uddin, de 40 anos, engenheiro e agora pai de uma menina. "Recebemos o nosso bebé em direto na TV", acrescenta.
Os bebés abandonados foram resgatados pela Associação de Saúde de Chippa, uma organização paquistanesa de auxílio.
"Daqui a um dia ou dois, o próximo bebé vai ser dado, graças a Deus", disse à Reuters o diretor da associação, Ramzan Chippa, na passada quinta-feira.
Enquanto as equipas de Chippa procuram recém-nascidos em caixotes do lixo ou outros locais, Aamir Hussain pede diretamente, ao público, bebés para o seu programa.
No site do apresentador, uma nota diz: "Se alguma família não consegue suportar as despesas do seu bebé devido a pobreza ou doença, então, em vez de o matar, deve entregá-lo ao Dr Aamir". As crianças seriam dadas a casais em direto para a televisão nacional, tal como se pode ler no site. Não é claro, no entanto, se as famílias pobres, ao desejar manter os filhos, recebem algum tipo de ajuda.
Muitos paquistaneses encontram-se indignados com a política que o programa de televisão está a seguir para dominar as audiências. Porém, segundo Ramzan Chippa, o verdadeiro ultraje está no facto de que a pobreza está a forçar famílias a abandonar crianças enquanto milhares de pessoas desejam ter um bebé.
Os média paquistaneses melhoraram na última década depois da liberalização da indústria que, durante décadas, foi controlada rigorosamente pelo Estado. Atualmente, em vez de lutar contra as restrições impostas pelo governo, as estações televisivas lutam entre si para controlarem as audiências.
Recentemente, uma jornalista perseguiu um casal num parque para desafiar a sua moralidade e um noticiário que transmitiu em direto a morte de um funcionário que sangrou até morrer, na sala de operações, depois de levar um tiro numa rixa.