O ex-Presidente da Libéria Charles Taylor foi condenado, esta quarta-feira, a 50 anos de prisão pelo tribunal especial para a Serra Leoa, que a 26 de abril o considerou culpado de crimes contra a humanidade e de crimes de guerra.
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"O tribunal condena-o unanimemente a uma pena única de 50 anos de prisão", declarou o juiz Richard Lussick, numa audiência pública em Leidschendam, nos arredores de Haia, na Holanda.
"O acusado é responsável por ter ajudado e encorajado, assim como por ter organizado, alguns dos crimes mais hediondos da história da humanidade", disse.
A acusação pediu a 03 de maio uma pena de 80 anos de prisão para Taylor, o primeiro ex-chefe de Estado condenado pela justiça internacional desde que o tribunal militar de Nuremberga julgou os responsáveis nazis. A defesa considerou a pena pedida "desproporcionada".
"Os efeitos destes crimes sobre as famílias das vítimas, assim como sobre a sociedade em geral, foram devastadores", adiantou o juiz Lussick.
"O tribunal viu numerosos sobreviventes chorarem enquanto prestavam testemunho", assinalou.
Os juízes também consideraram excessiva uma pena de 80 anos de prisão, lembrando que Taylor foi considerado culpado de ter tido um papel essencial na execução dos crimes, embora não tivesse "controlo efetivo" dos rebeldes da Serra Leoa que os cometeram diretamente.
O tribunal considerou como circunstâncias agravantes o facto de Taylor "ter traído" a posição de "confiança pública" em que se encontrava enquanto presidente da Libéria e ainda o facto de não ter mostrado qualquer remorso.
Considerado culpado de 11 acusações, incluindo violação, assassínio e atos desumanos, na última vez que falou no tribunal Taylor assegurou ter "feito tudo pela paz" na Serra Leoa e acusou o gabinete de procurador de ter comprado e ameaçado testemunhas.
O Tribunal Especial para a Serra Leoa não prevê a pena de morte ou a prisão perpétua. O antigo presidente da Libéria cumprirá a pena de prisão no Reino Unido.
A defesa e a acusação têm 14 dias para recorrer da sentença.
Presidente da Libéria de 1997 a 2003, Charles Taylor, de 64 anos, foi acusado de ter criado e aplicado um plano para obter o controlo da Serra Leoa, através de uma campanha de terror, com o objetivo de explorar as reservas diamantíferas do país.
As tropas de Taylor combateram ao lado dos rebeldes da Frente Unida Revolucionária da Serra Leoa, a quem o presidente fornecia armas em troca dos designados "diamantes de sangue" extraídos ilegalmente.
A condenação de Taylor foi saudada de forma unânime pela comunidade internacional e por numerososas organizações não governamentais, que a consideraram uma "decisão histórica" na luta contra a impunidade.