Há poucos meses, tinha dúvidas sobre a natureza do grupo Ongoing, que acusava de defender as posições do Governo. Agora, o deputado Agostinho Branquinho deixa o Parlamento para se tornar quadro da empresa. BE e PCP criticam. PS, PSD e CDS ficam em silêncio.
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A memória ainda está fresca. Na comissão de inquérito à actuação do Governo no caso da TVI e na comissão de Ética, Agostinho Branquinho foi um dos protagonistas do ataque ao Governo e aos socialistas por tentarem instrumentalizar a Comunicação Social.
Foi nesse contexto que questionou o director do Diário Económico acerca de eventuais pressões sobre os jornalistas a partir do momento em que o jornal foi adquirido pelo referido grupo, que também revelou interesse pela aquisição da TVI.
Por tudo isto, os deputados do BE e do PCP que integraram a comissão de inquérito contestaram a transferência de Branquinho do Parlamento para a empresa.
"O recrutamento directo e imediato de um deputado para uma empresa de Comunicação Social é estranho e pouco transparente. É um problema de falta de transparência entre a política e os negócios, num bloco central de interesses na sua melhor política".
A estas palavras do relator da comissão de inquérito, João Semedo, juntaram-se as do comunista João Oliveira, para quem a atitude de Branquinho "agrava a promiscuidade entre o poder político e económico e contribui para degradar a democracia".
Ainda no Parlamento, de onde só sairá em Novembro, Branquinho foi ontem, sexta-feira, questionado pelos jornalistas. "Actuei com a maior lisura e transparência", disse, e garantiu que das suas atitudes como deputado "nunca resultou benefício ou prejuízo para qualquer empresa".
Não aceitou a analogia com a transferência de Jorge Coelho para a Mota Engil com o argumento de que nunca foi ministro. "E um deputado não tem funções executivas". Sobre a actividade da Ongoing, fez questão de sublinhar que "o interesse da empresa da TVI foi posterior ao abandono do negócio por parte da PT".
Sem palavras ficou o PSD. Pacheco Pereira limitou-se a dizer, com cara de poucos amigos: "A isso só respondo com expressão facial."
No PS, alguns deputados da comissão de inquérito criticaram Branquinho, mas não publicamente, porque o líder da bancada, Francisco Assis, impôs o silêncio.
Quinto accionista da PT é dono do "Diário Económico" e tem 22% da Impresa
O grupo Ongoing é detido e foi fundado pela família Rocha dos Santos. O grupo que desde 2004 se focou nos sectores das telecomunicações, media e tecnologia, entre outros, é o quinto maior accionista da Portugal Telecom (3%).
No sector financeiro tem uma participação estratégica no Espírito Santo Financial Group e no BES (2%). Mas é nos media que o grupo se destaca com 22,47% da Impresa, 3,45% da Zon Multimédia e com a totalidade da Economica, que detém o Diário Económico e o canal Economico TV.
No Brasil o grupo tem 30% da Ejesa que gere seis jornais, os restantes 70% pertencem a Maria Alexandra Vasconcelos.
Em Junho a empresa reorganizou as participações e a Ongoin Strategy Investments foi comprada pela RS Holding que é detida a 99,9% por Isabel Maria Alves Rocha dos Santos e tem como presidente do conselho de administração Nuno Vasconcelos.