O FMI desempenhou em Portugal um papel indispensável, em 1977 e 1983, segundo Ramalho Eanes, então presidente da República. "Não me agradaria que Portugal tivesse de recorrer ao FMI" novamente, confessa.
Corpo do artigo
O antigo presidente da República Ramalho Eanes admitiu, em entrevista à Agência Lusa, que não gostaria de ver Portugal recorrer ao FMI, mas afirmou que a instituição e o fundo europeu de estabilização poderiam ajudar a resolver os problemas orçamentais portugueses.
"Não me agradaria que isso acontecesse,", disse Ramalho Eanes, comentando um eventual pedido de auxílio português ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira.
Caso esse pedido de intervenção viesse a acontecer, "demonstraria uma vez mais que não fomos capazes de resolver os nossos problemas, o que é preocupante até numa perspectiva de dignidade nacional".
Ramalho Eanes, que é Conselheiro de Estado e foi presidente da República na altura das duas intervenções do FMI em Portugal - 1977 e 1983 - relativizou, no entanto, os medos face a uma eventual intervenção do fundo em Portugal, na atualidade.
"Tem-se dramatizado muito a vinda do fundo. Eu creio que o fundo e a União Europeia, se viessem, viriam sem que isso significasse uma regressão e sem que representasse um agravamento significativo das condições do país", afirmou, na entrevista à Lusa.
"Creio que poderiam contribuir, inclusivamente, para resolver os problemas de financiamento que temos no exterior e poderiam também contribuir para resolver a nossa questão orçamental, até porque iriam impor algumas medidas estruturais que, na situação presente é difícil concretizar, por razões de desentendimento interpartidário", defendeu.
Mas a entrada do FMI significaria que Portugal só resolve os problemas "sob pressão internacional", frisou Ramalho Eanes. "É altura dos portugueses assumirem nas suas mão o seu próprio destino", apelou.
"A vinda do FMI a Portugal naquelas alturas, em 1977 e 1983, era indispensável porque não tínhamos disponibilidade suficiente em divisas para mantermos o regular abastecimento do país. De uma maneira mais prosaica, tínhamos que ter dinheiro estrangeiro para podemos comparar no estrangeiro, nomeadamente alimentos", lembrou Ramalho Eanes.
Eanes frisou ainda que foram as intervenções do FMI que permitiram a Portugal restabelecer as finanças pública: "Permitiram-nos continuar a recorrer ao mercado externo financeiro e permitiu-nos um certo reequilíbrio orçamental".
