O deputado do PND no parlamento da Madeira, António Fontes, protagonizou, esta terça-feira, um inusitado momento no plenário ao cantar da tribuna o tema "Grândola, Vila Morena".
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António Fontes intervinha, no período de antes da ordem do dia, na discussão de um voto de saudação para assinalar o 35º aniversário da Constituição da República, apresentado pelo grupo parlamentar comunista, que foi rejeitado pelos votos da maioria do PSD, abstenção do CDS e PND, e favoráveis do PCP, BE, PS e MPT.
O presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Miguel Mendonça, considerou que o deputado do PND se colocou numa situação "ridícula" que "quase faz ter saudades do deputado José Manuel Coelho".
"O deputado em causa, presumo que nunca leu o regimento ou nunca leu a norma, se o leu, passou pelo regimento e pela norma como raposa sobre vinha vindimada, aligeiradamente", opinou.
"Não considero que seja caso de lesa região. Foi um caso que deu para rir e teve o seu quê de ridículo, embora desrespeitoso, mas mais de ridículo até, pelo que considero que foi uma situação ridícula pela qual passou o senhor deputado a fazer quase ter saudades do deputado José Manuel Coelho", que o antecedeu como representante do PND, argumentou Miguel Mendonça.
O deputado do PSD-M, Coito Pita, considerou que o voto era "uma provocação" e criticou a "postura hipócrita" do PCP, enquanto que o seu colega de bancada, Tranquada Gomes, defendeu que a mesa da Assembleia Legislativa da Madeira "deveria sancionar" a atitude de António Fontes porque "utilizou o palanque não para falar mas para cantarolias". Adiantou que este episódio poderia abrir um precedente para que o parlamento ouvisse algum dia um "coro".
Sobre o voto, André Escórcio (PS) sustentou que a Constituição não deve ser "objecto de mais tentativas de desconfiguração dos seus princípios e valores", admitindo que deve ser feita uma reflexão sobre alguns aspectos, mas rejeitou o apoio do partido para permitir alguma "subversão constitucional".
Lopes da Fonseca (CDS) justificou a abstenção apontando que o partido considera que a Constituição "ainda tem na sua génese alguns pontos com o qual não concorda".
Por seu turno, Roberto Vieira (MPT) disse que "quem mais ordena não é o povo, mas os partidos (PS, PSD e CDS) e que a canção "Grândola, Vila Morena, passou a ser quase uma fraude, porque a letra é maravilhosa, mas Portugal e a Madeira não a praticam".
A maioria social-democrata rejeitou também um requerimento do PCP que visava a constituição de uma comissão eventual para a elaboração das linhas de combate à corrupção na Madeira, alegando o deputado Savino Correia que "esta é uma matéria da competência da Assembleia da República".
O líder parlamentar socialista, André Escórcio declarou que as "políticas exigem cidadãos sem manchas" e defendeu ainda que "é importante que haja transparência no ato político".
Roberto Silva do MPT referiu que existem na região "pessoas que enriqueceram do nada", considerando a iniciativa pertinente para que "a opinião pública não fique com a imagem que os políticos são todos corruptos".
O deputado do BE, Roberto Almada, sustentou que "existem condições favoráveis a situações de eventual corrupção na Madeira" e o do CDS/PP, Lopes da Fonseca, sustentou que "não há provas contra a corrupção, mas que ela existe, existe".