O candidato à liderança do PS António José Seguro afirma que tem uma posição contrária às privatizações da RTP e Águas de Portugal e considera que o Governo fala a "duas vozes" na justificação do imposto extraordinário.
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"Tenho ouvido da parte do Governo duas vozes a falar sobre o imposto extraordinário: o primeiro-ministro [Pedro Passos Coelho] diz uma coisa e o ministro das Finanças [Vítor Gaspar] diz outra. Com total sinceridade, ainda não encontrei nenhuma justificação para que exista esse imposto", declarou António José Seguro em entrevista à agência Lusa.
O candidato a secretário-geral do PS recusa-se a dar como adquirida a ideia de que exista um buraco de dois mil milhões de euros nas contas públicas e acusa Pedro Passos Coelho de contradizer-se em relação ao que afirmou quando estava na oposição.
"Quando o actual primeiro-ministro era líder da oposição, considerava um disparate a ideia de mexer no subsídio de natal e, além disso, durante a negociação do Orçamento para 2011, disse que o Estado devia primeiro dar o exemplo, cortando nas suas gorduras e nos consumos intermédios. Temos aqui dois exemplos de contradição do primeiro-ministro", afirmou, antes de apontar uma terceira alegada contradição no discurso político do presidente do PSD.
"Na sua tomada de posse, o primeiro-ministro também disse que nunca iria justificar a sua acção política com medidas do passado, mas, aparentemente, quer justificar. Não estou convencido nem da necessidade, nem sobretudo da justiça deste imposto [extraordinário], que apenas taxa os portugueses com rendimentos provenientes do seu trabalho, deixando de fora outros rendimentos, designadamente os de capital", sustentou.
Questionado sobre o cenário de haver já um desvio de dois mil milhões de euros nas contas do Estado, Seguro disse recusar-se a falar em "ses".
"Pronuncio-me em função de dados concretos e, neste momento, a única justificação que o Governo apresentou [para criar o imposto extraordinário] foi o princípio da precaução. Depois disso, tem havido um conjunto de notícias públicas e semi-públicas no sentido de dar a entender outro tipo de situações, designadamente com a expressão desvio colossal, mas entre as declarações do primeiro-ministro e as do ministro das Finanças não há convergência em relação às informações que eles próprios prestam ao país", defendeu.
Interrogado se está disponível para aceitar as privatizações da RTP e das Águas de Portugal, o candidato à liderança dos socialistas respondeu negativamente.
"Há um conjunto de privatizações que estão no memorando da "troika", mas essas duas não constam. No momento próprio, o PS irá pronunciar-se sobre esse tema, mas a minha posição é em princípio contrária às privatizações da RTP e das Águas de Portugal", adiantou.
De acordo com António José Seguro, no caso da RTP, não se deverá "confundir gestão e a ideia de se saber se deve ou não existir serviço público de televisão em Portugal - e eu considero que sim".
"Na questão das Águas de Portugal, considero que tudo o que são redes que têm a ver com a nossa soberania devem estar sob domínio público do Estado", advogou o candidato à liderança dos socialistas.