O Governo chavista de Nicolás Maduro, na Venezuela, quer reduzir o défice habitacional no país até 2017, através da construção de dois milhões de casas. Um plano ambicioso, para o qual o Grupo Lena está a contribuir com a construção de milhares de apartamentos.
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Ainda antes da realização das eleições gerais, não marcadas mas preanunciadas para o final do ano, na Venezuela, os 8200 apartamentos para 40 mil pessoas construídos pelo grupo Lena deverão ser inaugurados com pompa e circunstância.
A Venezuela, com níveis de pobreza ainda muito elevados, tem como trunfos eleitorais junto das classes mais desfavorecidas a política de entrega de casas e a regulação de preços nos produtos alimentares básicos.
O grupo Lena aparece, assim, na cena política venezuelana com um papel importante, ao garantir a construção de milhares de blocos de apartamentos. Em Ocumare, onde a construtora de Leiria continua a laborar normalmente, não obstante a crise que afeta o país, todos os dias vão nascendo novos apartamentos.
O regime de Nicolás Maduro esfrega as mãos, porque vão dar muito jeito para inaugurar e mostrar ao país que é um governo com uma política social virada para os mais desprotegidos.
Foi em 2011 que se anunciou o projeto social "Gran Misión Vivienda Venezuela", ainda durante a presidência de Hugo Chávez, que visava a construção de dois milhões de habitações até 2017.
O Grupo Lena foi um dos parceiros escolhidos para este importante projeto, tendo em 2008 assinado o contrato para a construção de 50 mil apartamentos.
O negócio foi desbloqueado em 2010 pelo então primeiro-ministro José Sócrates junto de Hugo Chávez. Na curta visita que efetuou à Venezuela, noticiou-se a assinatura de 19 acordos por 1655,9 milhões de euros, em diversas áreas e envolvendo as empresas Lena, Estaleiros Navais de Viana do Castelo, YouYsu, EDP, Janz, Efacec, Eip, Atral Cipan, Sovena, Vetagri, Montebravo, Sapropor, Primor, Conservas Ramirez, Cerealis e Cofaco.
A intermediação desse negócio será, de resto, uma das ligações entre o Grupo Lena e o antigo primeiro-ministro que estarão a ser avaliadas pelo procurador Rosário Teixeira, na Operação Marquês, embora a empresa tenha sempre negado qualquer tratamento de favor.
20 edifícios por mês
Com uma capacidade instalada de 20 edifícios por mês, a empresa tem um contrato para construir 40 mil apartamentos em Ocumare del Tuy e outros 20 mil em Cua, dois municípios dos arredores de Caracas, a cerca de uma hora de carro da grande capital.
A construção de uma autêntica cidade, em Ocumare, a cargo da empresa portuguesa, tem crescido a bom ritmo, estando sustentada com duas fábricas que produzem os painéis das paredes. Depois é quase como montar "lego": as placas encaixam-se com a colocação de fixações através de gruas telecomandadas por pequenas equipas. O método é simples e toda a conceção do projeto é 100% portuguesa, da autoria da empresa.
As fábricas construídas pelo Grupo Lena utilizam matérias-primas todas elas oriundas de Portugal. Desde as estruturas metálicas, às cozinhas, os vidros, os alumínios das janelas, as tubagens, todas as toneladas de material representam exportações portuguesas. "Somos, com toda a certeza, um dos maiores exportadores portugueses", diz orgulhoso Cardoso Marques, o CEO do Lena Venezuela (ver entrevista ao lado).
Por outro lado, quando a empresa concluir o seu contrato de construção de habitação social, o "know how" fica para a Venezuela, assim como as fábricas, já que o contrato prevê a transferência de competências para pessoal venezuelano.
No total, são 300 funcionários que trabalham neste projeto, dos quais apenas 40 são portugueses.
A empresa portuguesa montou todo o modelo de construção, de tal forma que não depende de praticamente nada da Venezuela para concluir os apartamentos: "Só dependemos em duas coisas da Venezuela, do cimento e dos pagamentos".
Em novembro, foram entregues os primeiros 30 blocos habitacionais, num total de 600 apartamentos em Ocumare, a cerca de 60 quilómetros de Caracas.
Exclusivo JN/Lusa