Diariamente o Banco Alimentar recebe toneladas de alimentos, que começam logo a sair para as 388 instituições apoiadas só em Lisboa, numa azáfama que leva ao armazém de Alcântara todos os dias mais de meia centena de carrinhas.
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Camiões de diversas proveniências - desde a indústria agroalimentar aos supermercados, passando pelas cadeias de distribuição, pelos mercados abastecedores e naturalmente pelas campanhas - descarregam dia após dia no Banco Alimentar contra a Fome de Lisboa, centenas de paletes de frutas e legumes e de caixotes com arroz, massa ou feijão.
Estes produtos são distribuídos acondicionados por dois armazéns, o dos perecíveis (frescos) e o dos não perecíveis (secos), aos quais acorrem as carrinhas das instituições de solidariedade social, que recolhem a sua parte, para ser posteriormente entregue às famílias carenciadas das regiões que servem.
No total, só na região da grande Lisboa são 388 instituições, que servem 90 mil pessoas. A nível nacional, o Banco Alimentar (BA) apoia 2.600 instituições de solidariedade social, chegando assim com os seus alimentos a 425 mil pessoas por todo o país.
Ana Vara, responsável do BA pelo contacto com as instituições, explica que "as instituições vêm uma vez por mês levantar um cabaz de não perecíveis, como seja o arroz, a massa, o feijão, o leite, estes produtos que têm maior durabilidade, e depois semanalmente levantar os produtos frescos", como frutas, iogurtes ou produtos congelados.
Em média, dirigem-se ao banco diariamente entre 50 e 60 instituições para recolher produtos não perecíveis e cerca de 80 para levantar alimentos frescos.
É o caso do centro comunitário paroquial de Famões, em Odivelas, que distribui uma vez por mês alimentos por cerca de cem famílias daquela região.
"São famílias carenciadas em que o desemprego de longa duração e a carência económica são as maiores características. Também existem famílias que são beneficiárias do Rendimento Social de Inserção, mas basicamente a grande característica é a necessidade de apoio alimentar", disse à Lusa Sofia Martins, educadora social e responsável pela emergência alimentar do centro.
No dia da entrega dos alimentos centenas de pessoas perfilam-se à entrada do centro paroquial ainda antes de este abrir portas, porque a recolha do cabaz é feita por ordem de chegada.
Há pessoas de todas as idades, entre idosos e jovens, casais de meia-idade ou mães com filhos pequenos, que enchem sacos e carros de compras com produtos de mercearia, fruta, legumes frescos e até caixas de chocolates e sacos com gomas para as crianças.
Uma dessas pessoas é Manuela Carvalho, de 37 anos, desempregada há um ano, com dois filhos, um marido que teve um acidente de trabalho e um tio idoso acamado.
A beneficiar da ajuda do BA há cerca de um ano, desde que ficou sem emprego, Manuela Carvalho conta que com a sua situação familiar e com os cuidados de saúde de que o tio necessita, o dinheiro deixou de dar para tudo.
"Tentamos que as ajudas daqui se estendam por mais algum tempo, não é fácil. Não temos uma alimentação como qualquer pessoa: a carne, o peixe, a gente reduz, se calhar duas ou três costeletas dá para fazer para oito pessoas em casa, e depois come-se um prato de sopa, pãozinho, e é assim que a gente faz", afirmou.
Inicialmente quando começou a recorrer ao centro paroquial, a comida era distribuída todas as semanas, e não apenas uma vez por mês como acontece agora, e "a quantidade acabava por ser mais".
José Alves, de 56 anos, já recorre à ajuda do BA há mais tempo, porque foi reformado por invalidez "sem necessidade" aos 45 anos.
A viver com uma reforma de 409 euros, com a mulher em casa, um filho de 14 anos a estudar e "uma renda de casa muito alta", os produtos que recebe do banco são a principal fonte alimentar da família.
"Isto é uma grande ajuda, é logico que não chega para um mês inteiro, terei sempre que comprar mais alguma, mas é uma grande ajuda que nós temos através do Banco Alimentar".