Põe-se o pé no"Creoula" e quase não se para até a noite cair. Ainda as amarras estão bem presas ao recém-inaugurado terminal de cruzeiros de Leixões, em Matosinhos, e os 41 instruendos prestes a partir na aventura da Universidade Itinerante do Mar já recebem instruções sobre a dinâmica e a segurança do único navio de treino do Mundo em que militares ensinam civis.
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"Pode largar", grita-se para o cais, a meio da manhã tranquila de domingo. Soltam-se logo os cabos e o antigo bacalhoeiro português vai a deslizar nas águas mansas de Matosinhos. Primeiro, a deixar lentamente os braços do Porto de Leixões; depois, a despedir-se da praia até ganhar o mar rumo às Berlengas. Ainda não passou uma hora da largada e já todos mergulham em exercícios a bordo - aqui, os aprendizes participam nas lides diárias do navio, desde o manuseamento de velas e mastros à limpeza e confeção das refeições.
Afinal, eles embarcaram num curso de mar e o objetivo é que integrem a guarnição do veleiro de quatro mastros durante uma campanha que chegará a Porto Santo no dia 7 e no dia seguinte ao Funchal, Madeira, e que inclui sete dias inteiros de navegação em alto mar. "Eles trabalham a bordo e desempenham uma série de funções cujo objetivo é integrá-los. Sempre com a supervisão da guarnição de 40 militares, que é propositadamente reduzida para absorver os instruendos", explica o comandante do "Creoula", capitão de fragata Cruz Martins, realçando que "esta é uma missão única". "Este é o único navio da Marinha com esta missão (de treino de civis).
Já temos indagado e não conhecemos outro navio operado por militares que se dedique a esta atividade, a nível nacional e internacional", concretiza o oficial, adiantando que pelo "Creoula" já passaram 16 mil jovens em formação. E como vivem militares e civis no "mesmo barco"? A receita é simples e parece ser infalível: "O navio é utilizado pelas instituições (não são aceites inscrições particulares) de acordo com as normas da Marinha", esclarece Cruz Martins, que vê na mútua aprendizagem mais um ingrediente para a relação resultar. "Damos formação, mas acredito que aprendemos muito com os instruendos, que são pessoas com experiências de vida muito diferentes daquela que um militar tem".