Um agente policial revelou esta quarta-feira que identificou e surpreendeu em flagrante o professor universitário de Évora Mário Mendes, arguido num caso de espionagem e devassa da vida privada, que tem ainda como arguidos detectives privados, agentes da PSP e da PJ.
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Trata-se do caso de um professor que se fazia passar por mulher, aliciando homens na Internet, com quem mantinha relações amorosas virtuais. Quando os homens se cansavam e desistiam da relação, passava a infernizá-los, presumivelmente com intuito de vingança.
Foi precisamente na vigilância à residência de uma das vítimas no Beco dos Birbantes, em Lisboa, que o agente da PSP Jorge Pereira Monteiro surpreendeu o professor universitário com um saco vermelho e dois copos com tintas destinadas a sujar a casa do ofendido (de nome Vasco).
O polícia e testemunha da acusação relatou que, ao surpreender o professor Mário Mendes, este desatou a fugir e que ainda correu atrás dele, ficando a dois ou três metros, mas que não logrou capturá-lo porque nesse dia usava sapatos de vela e os atacadores soltaram-se, impedindo-o de fazer a perseguição.
"Não pode calçar mais esses sapatos", disse a juíza presidente, dirigindo-se, com um sorriso nos lábios, ao agente policial, ao que este acenou afirmativamente com a cabeça.
Apesar de ter sido traído pelos sapatos de vela, a testemunha garantiu que conseguiu ver bem a cara do professor universitário e que, mais tarde, o reconheceu imediatamente em Évora, altura em que fizeram uma busca ao quarto de Mário Mendes.
Segundo Jorge Pereira Monteiro, o professor universitário tinha a porta do quarto fechada e não quis colaborar com a polícia, dificultando o trabalho dos investigadores ao colocar-se junto à janela da assoalhada.
Numa sessão em que o professor universitário esteve ausente do banco dos réus, a 2.ª Vara Criminal de Lisboa ouviu outros dois agentes da PSP sobre intercepções telefónicas, vigilâncias e buscas, algumas destas diligências envolvendo detectives privados, dois agentes da PSP e dois inspectores da PJ alegadamente envolvidos no esquema do professor.
Para o auxiliar na sua actividade persecutória, o professor Mário terá, segundo a acusação, contratado, a troco de dinheiro, dois detectives privados, dois agentes da PSP e dois inspectores da PJ - todos arguidos -, os quais terão feito vigilância às vítimas, fornecendo dados que depois o professor utilizava nas comunicações com estas, para as ameaçar e amedrontar.
Das audições de julgamento de hoje ficou patente que o professor conseguia alegadamente imitar na perfeição uma voz feminina ao telefone, chegando a confundir durante muito tempo os investigadores que faziam as escutas telefónicas.
O julgamento prossegue no dia 15.