Contas "fantasma" e movimentos de "milhões" entre contas com origem desconhecida foram relatados esta quarta-feira pelos peritos que auditaram as contas do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas entre 1974 a 1981, no âmbito da investigação ao caso Camarate.
Corpo do artigo
Os peritos, que fizeram a auditoria para a VIII Comissão de inquérito, há oito anos, recordaram esta quarta-feira as dificuldades com que esbarraram para fazer a auditoria, sobretudo "falhas de memória" de algumas pessoas ouvidas, e a falta de documentação que suportasse entradas e saídas de dinheiro de contas oficiais e não oficiais, uma delas com um movimento de "21 milhões de escudos" com origem desconhecida.
A investigação ao Fundo de Defesa Militar do Ultramar (FDMU) e ao comércio e exportação de armamento são as duas linhas de investigação seguidas pela X comissão de inquérito ao caso Camarate.
"Nós vimos contas não oficiais que eram movimentadas no gabinete do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, e o que se viu foi que as pessoas não se recordavam, não sabiam. Alguém disse que isso foi tratado por um coronel que já faleceu", resumiu Lino Gonçalves Coelho, um dos peritos ouvidos.
"Perante esta nuvem de coisas que não se sabem, como podemos encontrar o rasto deste dinheiro, o que podemos fazer mais do que fizeram os senhores?", questionou a deputada do PS Inês de Medeiros, considerando que, "para já", o que existe "é uma grande nebulosa".
O deputado do PSD Miguel Santos admitiu a possibilidade de o FDMU não ter sido extinto de facto e o deputado Duarte Pacheco, também do PSD, defendeu que "há muitas coisas pendentes" para explicar, deixando em aberto a hipótese de a comissão voltar a investigar a documentação histórica e ouvir pessoas que eventualmente ainda tenham elementos para fornecer.
Ribeiro e Castro, do CDS-PP, manifestou estranheza face ao "mistério da transferência de competências" na área do comércio e exportação de armas, frisando ser "indispensável "obter a identificação do "diretor nacional do armamento neste período e de outros quadros".
A auditoria às contas do gabinete do CEMGFA entre 1974 e 1980 detetou "diversas discrepâncias contabilísticas" e estabeleceu "ligações financeiras entre o gabinete e do FDMU, evidenciadas pelas transferências entre contas", lê-se no relatório da VIII comissão de inquérito.
No período entre 1974 e 1980, ocuparam o cargo de CEMGFA os generais e ex-presidentes da República Francisco da Costa Gomes (março de 1974 a julho de 1976) e Ramalho Eanes (1976 a fevereiro de 1981).
A X comissão de inquérito ao caso Camarate visa averiguar as "causas e circunstâncias em que, no dia 4 de dezembro de 1980, ocorreu a morte do primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, do ministro da Defesa Nacional, Adelino Amaro da Costa, e dos seus acompanhantes".