
Portugal, que no último relatório da Europol é identificado como porta de entrada para o tráfico de cocaína e haxixe na Europa, é "vítima da sua geografia", afirmou, terça-feira, em Lisboa um alto responsável do Departamento de Estado norte-americano.
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O secretário de Estado adjunto para os Narcóticos do Departamento de Estado norte-americano, William R. Brownfield, que em Lisboa participa no "Simpósio Transatlântico para o Desmantelamento de Redes Ilícitas Organizadas", disse, contudo, não acreditar que a actual situação económica de Portugal aumente a vulnerabilidade do país em relação ao tráfico de drogas.
Portugal é, "por assim dizer, uma vítima da sua geografia, já que o país está localizado num ponto de passagem importante: tanto no caso de o produto [a droga] estar a movimentar-se de este para oeste, através do Atlântico, ou do sul para o norte, da África para a Europa", afirmou Brownfield, em conferência de imprensa.
"Acho que isso realmente não importa muito. Se a situação financeira de Portugal fosse a melhor de toda a sua história, ou se fosse a pior, a geografia não muda. E certamente estaríamos a debater muitas das mesmas questões e problemas, e a desenvolver este simpósio em Lisboa", considerou o responsável norte-americano.
O simpósio internacional, que decorre até quinta-feira na capital portuguesa, é uma iniciativa conjunta dos EUA-UE, co-patrocinada pelo Departamento de Estado norte-americano e pela União Europeia, e que visa fomentar um diálogo inter-regional entre responsáveis pela segurança e a justiça das várias regiões e reforçar a cooperação internacional no combate ao crime e redes ilícitas nos dois lados do Atlântico.
O relatório da Europol "Avaliação da ameaça da criminalidade organizada", divulgado no início de Maio, identifica Portugal e Espanha como principais pontos de concentração de meios criminosos na Europa, principalmente no que respeita ao tráfico de seres humanos e como porta de entrada para o tráfico de cocaína e haxixe no espaço da União Europeia (UE).
De acordo com o documento da Europol, além de porta de entrada destas drogas, a Península Ibérica serve agora como ponto de concentração de grupos criminosos.
"Não digo que isto sejam boas ou más notícias, é a realidade. E por isso espero que nestes dias consigamos chegar a acordo de como enfrentar essa realidade no melhor interesse de Portugal, da Europa e dos parceiros em África, América Latina e Estados Unidos", salientou William R.Brownfield.
Françoise Label, responsável da Direcção-Geral Justiça, Liberdade e Segurança da Comissão Europeia (DG Justice), lembrou, por sua vez, que o plano de ajuda externa agora aprovado pelos parceiros europeus "em nada vai diminuir a capacidade" de Portugal de lutar contra este tipo de criminalidade.
"Nesse plano de ajuda externa há várias medidas acordadas que apontam para o reforço do sistema judiciário [português], pelo que a capacidade de Portugal não será diminuída", muito pelo contrário, frisou a responsável, na conferência de imprensa.
