Os trabalhadores temporários são funcionários mais motivados e menos stressados do que os restantes funcionários. Ainda assim, 80% dos temporários aspira a um contrato directo, diz um estudo da Faculdade de Psicologia de Lisboa.
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A maior parte dos funcionários encara o trabalho temporário como uma oportunidade para conhecer pessoas, para ter formação e como experiência profissional, exibindo por isso melhores níveis de bem-estar e de compromisso afectivo com a empresa.
"Como estes trabalhadores acreditam que o seu esforço virá a ser recompensado por parte da empresa, nomeadamente através da sua contratação, quando existir uma oportunidade mostram mais compromisso com os objectivos da empresa, na realização do seu trabalho", explicou Maria José Chambel, coordenadora do estudo da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.
Oitenta por cento dos trabalhadores temporários preferia ter um contrato directo com a empresa utilizadora, revela o mesmo estudo, que contou com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
No entanto, e de acordo com a mesma investigação, 50% destes trabalhadores também não se importaria de continuar na empresa de trabalho temporário, demonstrando voluntarismo nesta opção contratual.
A equipa da Faculdade de Psicologia estudou também os níveis de stress destes trabalhadores em comparação com os funcionários permanentes das empresas, tendo concluído que estes ou têm níveis idênticos de estados psicológicos ou têm até melhores resultados.
"Na origem desta conclusão pode estar o facto de os trabalhadores temporários estarem nestas empresas há menos tempo do que os trabalhadores permanentes, podendo por isso sofrer menos desgaste no exercício do seu trabalho, ou seja, como sou temporário não estou à espera de segurança então o facto de não ter segurança não me causa transtorno", salientou a investigadora.
Maria José Chambel disse, ainda à Lusa, que o mundo está em mudança, o mercado de trabalho tal como era conhecido já não existe, e por isso é "melhor ser trabalhador temporário do que estar no desemprego.
As conclusões dos vários estudos foram compiladas e publicadas no livro "Novos desafios para a Gestão de Recursos Humanos: O caso dos trabalhadores temporários", com prefácio do Provedor da Ética Empresarial e do Trabalhadores Temporário, Vitalino Canas, apresentado sexta-feira no Segundo Encontro Nacional de Gestão de Recursos Humanos nos Trabalhadores Temporários na Faculdade de Psicologia em Lisboa.
"Demorámos dois anos a efectuar os estudos e as conclusões a que chegámos eram tantas que decidimos compilar e publicar em livro", disse Maria José Chambel, adiantando que nos estudos participaram 1338 trabalhadores temporários pertencentes a nove empresas: três de call center e seis de indústria.
Resultados contrariam "lugares comuns"
Para o provedor da Ética Empresarial e do Trabalhador Temporário, os resultados de estudos da Faculdade de Psicologia são "surpreendentes" e "contrariam lugares comuns".
"Vêem também como uma oportunidade para reforçar a sua empregabilidade futura, pelo que o seu empenho e motivação pode ser superior aos dos trabalhadores dos quadros, o que, do ponto de vista de uma política de recursos humanos, é um dado interessante", disse Vitalino Canas.
O trabalho temporário é uma forma "respeitável de contribuir para a criação de emprego e de criar expectativas para muita gente, aceder ao mercado de trabalho, melhorar a sua empregabilidade e garantir as competências que lhes permitem competir num mercado que vai ser cada vez mais inseguro".
"É do interesse das empresas motivar os trabalhadores dando-lhes oportunidades de formação, aquisição de novas competências e até a oportunidade de passarem ao quadro da empresa. Um trabalhador temporário que vê os seus direitos respeitados de forma estrita e encontra na empresa utilizadora oportunidades é um trabalhador valioso para a empresa", acrescentou.
O provedor da Ética Empresarial e do Trabalhador Temporário foi criado em 2007 pela Associação Portuguesa das Empresas do Sector Privado e de Emprego e tem por funções principais a divulgação, defesa e promoção dos direitos e dos interesses dos trabalhadores temporários.
"Mediamos situações de litígio entre trabalhadores temporários e empresas. Por outro lado, procuramos garantir que as regras de ética empresarial, quer no relacionamento destas com os trabalhadores, sejam respeitadas", disse, realçando ainda que procura também intervir no debate público sobre legislação que respeite esta área.
Vitalino Canas adiantou que a maior parte das solicitações que recebe dizem respeito a pedidos de informação e de conselho, muitos relacionados com os direitos em caso de caducidade de trabalho temporário.
Também o presidente da Associação Portuguesa das Empresas do Sector Privado de Emprego (APESPE) admitiu hoje que os resultados dos estudos da Faculdade de Psicologia vêm demonstrar que nem tudo "é mau".
"Estes resultados vêm reiterar que não há discriminação entre os trabalhadores permanentes das empresas e os trabalhadores temporários, que há igualdade de tratamento e de oportunidades para todos", disse o presidente da APESPE, Marcelino Pena e Costa.
